O Globo, n. 32517, 17/08/2022. Política, p. 13
Diversidade aumenta entre os candidatos
Julia Noia
Malu Mões
Rafael Garcia
O número de candidaturas de negros, indígenas e mulheres já bateu recorde nestas eleições se comparado ao do pleito de 2018, de acordo com o balanço parcial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Até a tarde de ontem ,14.056 dos candidatos elegíveis se autodeclaram negros — pretos ou pardos, de acordo com os parâmetros de cor e raça definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ante os 13.569 de quatro anos atrás. As candidaturas, no entanto, ainda não representam a maioria dos nomes nas urnas em outubro: até ontem à tarde, eles eram 49,5% dos elegíveis, aquém da representação real da população brasileira — em 2021, eram 56% dos brasileiros, segundo dados consolidados da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílio do IBGE (Pnad).
Neste ano, foi registrado um aumento no número de candidatos autodeclarados pretos, que saltou de 3.163 para 3.947; por outro lado, o número de postulantes ques e identificam como pardos caiu de 10.406 para 10.106, pela parcial.
Para 18 dos 32 partidos, negros serão mais da metade das candidaturas. Isso atesta um aumento significativo ante 2018, quando essa proporção foi respeitada em apenas 13 das 36 legendas. As siglas de esquerda são maioria entre as que têm maior representatividade: o PSOL lidera o ranking, com 60,7% das candidaturas de autodeclarados pretos e pardos, seguido por União Popular (60%), PMB (59,7%), PCdoB (58,7%) e PMN (58,7%).
O PL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta a reeleição, ocupa a 29ª colocação, entre 32, com 42,5% que se identificam como negros. O PT, legenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está na 20ª posição, com 49,5%.
Impulsionamento
As candidaturas femininas também superaram as de 2018: 9.415 mulheres se registraram no TSE, contra as 9.204 de 2018. O aumento é impulsionado pela reserva de ao menos 30% dos recursos do fundo eleitoral para mulheres. Até o momento, o percentual feminino continua estagnado em um terço. Os dados do TSE ainda podem ser atualizados, mas caso o cenário se concretize mostra que houve pouco crescimento desde 2014. Naquele ano, 31% dos que concorreram eram mulheres. Neste ano, são 33%, só um ponto percentual acima de 2018, quando foram 32%.
O percentual na casa dos 30% vai ao encontro com a lei que determina, desde 2009, que as mulheres sejam no mínimo 30% das candidatas a vagas proporcionais — deputados federais, estaduais e distritais. Até o pleito de 2010, as candidaturas femininas (para todos os cargos, não só proporcionais) estavam na casa dos 20%, ultrapassando 30% pela primeira vez em 2014.
A maioria das 32 siglas lançou só um terço de candidatas. Segundo os dados atualizados nesta terça-feira, apenas UP (68%), PC do B (45%), PSTU (41%) e PSOL (40%) tiveram mulheres em pelo menos 40% das candidaturas.
Doutora em sociologia pela Universidade de Madri e professora na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Esther Solano diz que as ações feitas para aumentar o número de candidatas ainda não são suficientes:
— Esse número sempre entorno de 30% mostra os partidos cumprindo as cotas de forma superficial.
Ela avalia como positivo o aumento deste ano, reforça que as mulheres “se sentem cada vez mais empoderadas a participar da política”, mas avalia haver muitas travas para que elas consigam concorrer.
Série histórica
Já os indígenas terão pelo menos 175 nomes cadastrados nas urnas para as eleições, número recorde na série histórica desde 2014, quando a declaração de cor e raça passou a ser realizada. Apenas nove são postulantes a cargos majoritários: uma candidata a vice-presidente na chapa do PSTU, dois a governo do estado, quatro para vice-governador e dois para o Senado.
Segundo o balanço parcial de candidaturas do TSE, candidaturas de indígenas representam apenas 0,6% do total. No entanto, 11 partidos registraram representatividade acima da média geral. Os dados podem sofrer alterações. A Rede Sustentabilidade lidera o ranking com 3,9% das candidaturas, 18 das 464 registradas até o momento. A legenda é seguida pelo PSOL (2,8%), PT (2%) e PSTU (1,9%).