Título: Impostos evitaram queda maior
Autor: Marcelo Kischinhevsky e Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) abalou a certeza de economistas do governo e do mercado de crescimento de pelo menos 3% em 2005. Na média do mercado, as expectativas eram de uma retração de 0,3%. Com o tombo de 1,2%, o Produto Interno Bruto teria agora de avançar 4,3% no quatro trimestre em relação a igual período de 2004, segundo cálculos do próprio IBGE, para que o resultado inicialmente previsto fosse garantido. No terceiro trimestre, frente a igual período do ano passado, o aumento do PIB foi de apenas 1%. Nos nove primeiros meses de 2005, o crescimento acumulado é de 2,6%.

Na pior taxa desde o primeiro trimestre de 2003 (com vestígios do governo anterior), o resultado só não foi pior porque os impostos cresceram e aumentaram o valor do PIB. A retração seria de 1,6% não fosse o aperto da carga tributária. Juros, câmbio, indústria estocada, colheita fraca dos principais produtos em época de safra e até a queda da inflação conspiraram contra o desempenho da economia.

Se por um lado a queda dos preços reduziu a contagem do PIB (o IBGE se baseia em preços e volume das riquezas), por outro melhorou o poder aquisitivo da população. E o consumo cresceu 0,8% entre o segundo e o terceiro trimestres, o oitavo aumento consecutivo. Assim como o crédito farto para o consumidor destoa da Selic mais elevada dos últimos dois anos e meio, a melhora na demanda das famílias constrastou com o corte dos investimentos e o aperto da indústria.

Os investimentos, após o salto de 4,7% no segundo trimestre, despencaram e amargaram uma queda de 0,9%, como mostra a Formação Bruta de Capital Fixo. Como a taxa também envolve acúmulo de estoques e estes encolheram no terceiro trimestre, a queda pode ter sido ainda maior. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, a queda foi de 2,1%, depois de alta de 4% de abril a junho.

Os investimentos minguaram porque a construção civil e a indústria de máquinas e equipamentos recuaram. Fabricantes de bens de capital são os primeiros a refletir o desaquecimento da indústria. O PIB da indústria, como já se esperava, caiu 1,2% do segundo para o terceiro trimestre. A agropecuária foi ainda pior: queda de 3,4%. Os serviços ficaram estagnados.

- Coincidiu de a agropecuária recuar ao mesmo tempo em que a indústria - assinalou a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.

Onze dos 13 subsetores da economia informados pelo IBGE enfraqueceram em relação ao terceiro trimestre do ano passado. As exceções foram a indústria extrativa mineral (petróleo e gás), que passou de um crescimento de 2% para 10,3%, e o ramo de comunicações, que saiu de uma queda de 1,4% para crescimento de 0,8%, sempre na comparação entre terceiros trimestres de 2004 e 2005.

Os piores resultados partiram da indústria de transformação (de 6,6% para -0,9%), da agropecuária (de 5,9% para -1,9%) e da construção (de 11,6% para -1,9%). Ainda nessa comparação houve queda de 2,1% nos investimentos, compensado pelo aumento de 2,8% no consumo das famílias. Consumo das famílias e exportações, por outro lado, evitaram resultado pior do PIB, com altas de 0,8% e 1,8%, respectivamente.