Título: Retração surpreende e põe juro alto em xeque
Autor: Marcelo Kischinhevsky e Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

A retração de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas no país), comparando-se o terceiro trimestre com o anterior, superou a maioria das projeções do mercado e sepultou as esperanças de crescimento acima de 3% este ano. É o pior resultado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde os primeiros três meses do governo Lula, o que eleva a pressão sobre a política monetária, num momento em que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, maior avalista das decisões do Banco Central, enfrenta cerrado fogo amigo. O mau desempenho da economia surpreendeu especialistas, que imediatamente começaram a refazer suas previsões para o crescimento em 2005. O reflexo no mercado também foi imediato: o dólar comercial subiu 0,82% e fechou vendido a R$ 2,207, após três dias em baixa.

¿ O resultado reforça a idéia de que o Banco Central vai ter de acelerar a redução da taxa básica de juros ¿ avaliou Sérgio Werlang, ex-diretor do BC e hoje no Itaú, que espera corte de 0,75 a 1 ponto percentual na Selic em dezembro.

Com o PIB ruim, o Itaú revisou sua projeção de crescimento no ano de 2,8% para 2,1%. Werlang, um dos pais do sistema de metas de inflação, considera que o BC elevou demais os juros e custou a cortá-los, perseguindo o alvo de 5,1%, pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (referência oficial).

¿ A banda existe para ser usada ¿ criticou, ressalvando que o BC precisa administrar as expectativas do mercado para a inflação.

O chefe do Departamento Econômico da Austin Rating, Alex Agostini, prevê que a temperatura das críticas contra a politica econômica vai aumentar.

¿ O forte recuo do PIB reacende discussões que envolvem diretamente a dinâmica da atividade econômica, como as políticas monetária e fiscal. Nesse sentido, o resultado do PIB deve inflamar o discurso daqueles que desejam uma maior flexibilização dessas políticas.