Título: Números opõem Furlan e Palocci
Autor: Sandra Nascimento
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. A20

O fraco desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano - queda de 1,2% em relação ao trimestre anterior - voltou a colocar os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e da Fazenda, Antonio Palocci, em campos opostos. Enquanto o ministro responsável pela política econômica considera o resultado ''natural, um ponto fora da curva de crescimento, mas não uma tendência'', Furlan foi taxativo: ''é um resultado preocupante, os números vieram abaixo do esperado. A política econômica produziu os resultados previstos e isso dá agora condições para a área econômica acelerar o trabalho de queda nas taxas de juros''.

O governo trabalha com uma expansão de 3,4% do PIB para 2005, mas é grande a expectativa para a revisão deste número depois do resultado divulgado ontem pelo IBGE. Palocci admitiu apenas que o governo ''vai refazer as contas e avaliar'' os números. Já Furlan, depois de fazer seus próprios cálculos, ''para crescer 4% o Brasil precisaria crescer 0,8% no terceiro e no quarto trimestres'', concluiu que o país está longe disso, mas também não arriscou qualquer percentual.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que administra a atividade que registrou o pior desempenho no período, com queda de 3,4%, foi mais otimista e disse acreditar que a economia brasileira pode terminar o ano 3,2% maior. Para ele, esse setor é cíclico e tem nos terceiros trimestres um dos piores resultados do ano, agravado agora pela crise da aftosa.

- O que falta ao Brasil, a exemplo dos países desenvolvidos, são políticas anticíclicas, o que ameniza os resultados negativos - disse.

Palocci e Furlan concordam em um ponto: outubro ainda deverá trazer resultados negativos. Para o ministro da Fazenda isso não deverá afetar significativamente o resultado acumulado nos últimos três meses do ano, que, diz ele, deverá mostrar recuperação; Furlan reconhece que há sinais de melhora para o último trimestre, mas defende que, se nada for feito agora para abaixar os juros e estimular os investimentos, não haverá tempo para recuperação.

- É preciso tomar providências para reverter a curva (do crescimento) e entrarmos em janeiro em outro ritmo.

Para o ministro da Fazenda ''toda política monetária tem custos'' e ''o foco do Banco Central é o comportamento da inflação''. Ele acrescentou que ''o mais importante é que devemos fechar o ano com dois pontos a menos na inflação e que isso vai se refletir na renda das famílias, no aumento do conjunto da massa salarial e é isso que, olhando para frente, dá garantia para a continuidade do crescimento''.

O combate à inflação, na avaliação do titular da Fazenda, é o que garante ''o ciclo de crescimento sustentado'' no qual o país está agora inserido, segundo ele. Na avaliação de Palocci, a expansão da renda, do emprego formal, das vendas e do crédito continuam muito positivos.

- Esses indicadores é que são fundamentais para o equilíbrio da economia e da continuidade do crescimento; este resultado do terceiro trimestre não indica uma tendência, o crescimento certamente vai continuar porque todos os elementos estão dados e devem continuar trazendo os seus efeitos.

O resultado do terceiro trimestre mostrou uma forte expansão do consumo das famílias - componente que representa 60% do PIB - mas também uma queda importante na oferta. Segundo o ministro da Fazenda, ''quando há expansão no consumo das famílias e queda na oferta, com continuidade no crescimento da renda real, o desenho do terceiro trimestre é de ajuste de estoques'' e que, ''olhando para frente, a flexibilização da política monetária, a continuidade do aumento do emprego e da renda, aliados aos bons resultados do setor externo, indicam que o crescimento não vai parar''.

Quanto às pressões para aumentar os gastos com investimentos, o que recentemente resultou num debate público com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Palocci declarou estar ''acostumado a pressões, mas que está seguindo o caminho traçado (pelo governo) e os indicadores fundamentais são bastante sólidos''.