Título: Aids em declínio na capital federal
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, Brasília, p. D5

Ao longo de vinte anos de convivência com a Aids no Distrito Federal - o primeiro caso foi diagnosticado em 1985 - a região registrou 5005 casos da doença. No ano passado, a taxa de incidência da doença - casos de Aids por 100 mil habitantes - foi de 21,2 no DF. O número é inferior ao de 2003, quando a taxa ficou em 29,7. No Brasil, a proporção registrada foi de 17,2. Na região Centro-Oeste, o índice ficou em 18,6. Os dados foram divulgados no Boletim Epidemiológico Aids/DST ontem pelo Ministério da Saúde. Pelos números apresentados, houve uma queda dos casos de Aids em 2004 se comparado a 2003. No ano passado, foram 474 casos contra 650 do ano anterior. .

Segundo o Boletim Epidemiológico de DST/Aids do DF, elaborado pela Secretaria de Saúde, a notificação da doença é mais freqüente entre os heterossexuais. Dos casos notificados no ano passado, 42,7% são de heterossexuais, 18% bissexual masculino e 16,1% homossexual masculino.

Preconceito - Segundo Diva Castelo Branco Arruda, gerente de DST Aids da Secretaria de Saúde, a doença tem maior incidência na população afro-descendente. Essa constatação foi feita em todo o País e, por isso, o Ministério quer relacionar o preconceito racial com a discriminação vivida pelos portadores de HIV.

- O racismo é um fator adicional à vulnerabilidade causada pela falta de informação - afirma o ministro da Saúde, Saraiva Felipe.

O ministro relacionou a incidência da doença também à pobreza. O elevado número de negros e pardos na população pobre, que normalmente tem menos acesso à informação, explica a tese de que a população afro-descendente acaba sendo mais suscetível à doença. Nada relacionado a questões genéticas, obviamente.

- Pobreza é uma questão de saúde pública. Se diminuíse a desigualdade no Brasil teríamos outra política de saúde - diz o ministro.

Prevenção - O ministério anunciou a distribuição de um bilhão de preservativos em todo o País. A distribuição de camisinhas é uma das ações desenvolvidas pela Secretaria de Saúde do DF.

Dentro da política de redução de danos da secretaria, 12 pessoas atuam como redutores em todo o DF oferecendo informações às pessoas das cidades da região. Ao todo, eles atendem cerca de 2,7 mil pessoas, sendo 700 usuários de drogas, 100 usuários de droga injetável, 160 trasvestis, 500 profissionais do sexo e 20 soropovitivos.

Segundo Diva Castelo Branco Arruda, a secretaria distribui 12 mil preservativos masculinos, 700 camisinhas femininas, 200 seringas e 100 kits para drogas injetáveis.

- A política de redução de danos não implica somente na orientação quanto ao uso de drogas, mas também quanto à colocação de silicone - completa Diva.

Segundo ela, a experiência da política de redução de danos é usada em outros países e apresentam resultados positivos.

- No DF, percebemos que as pessoas com essas intervenções passam a refletir e repensar a questão do uso de drogas - afirma.

Manifestação - Apesar dos números otimistas divulgados pelo Ministério da Saúde e pelo governo do DF, ativistas ligados ao Fórum ONGs Aids do DF planejam, às 10h, um abraço simbólico no Hospital Dia, na 508 Sul, como protesto para a falta de apoio do GDF às políticas de combate à Aids. De lá, eles seguem para o Ministério da Saúde.

- A responsabilidade das políticas de prevenção não cabe apenas ao GDF, mas também ao governo federal, que deve cobrar relatórios da Secretaria de Saúde - reclama, Márcio Koshaka, diretor da ONG Estruturação ligada ao Fórum ONGs Aids do DF.