Título: Emoção e cobranças no fim do Festival
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2005, Brasília, p. D8

A noite de encerramento do 38º Festival de Cinema de Brasília foi marcada por discursos emocionados e protestos pontuais dos cineastas de Brasília. Eles pediram a abertura de editais para financiamento de longas-metragens no DF e a inclusão do vídeo nas mostras competitivas. A cerimônia aconteceu na noite de terça-feira na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. O prêmio máximo do júri oficial foi para o longa-metragem Eu Me Lembro, do baiano Edgard Navarro. Apesar dos trinta anos de carreira como cineasta, este foi o primeiro longa-metragem do diretor.

A produção atende a uma inspiração autobiográfica e levou a linguagem poética às telas do Cine Brasília. O público aplaudiu e a película recebeu sete prêmios. Entre eles, os de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro e o Prêmio da Crítica como Melhor Longa.

No discurso Edgard Navarro disse que era um homem pobre, mas da platéia se ouvia: Agora você é um homem rico. Isso porque além dos seis candangos e do troféu da crítica, Eu Me Lembro recebeu R$ 135 mil.

- Estou muito feliz de estar voltando ao cinema nesta vitrine que é o Festival - afirmou Navarro ao receber seu primeiro prêmio.

Brasiliense - O longa brasiliense A Concepção, de José Eduardo Belmonte, recebeu os Candangos de melhor trilha sonora e de melhor montagem. Como era o único longa-metragem da cidade na competição, o filme recebeu o prêmio de R$ 50 mil da Câmara Legislativa do DF e mais R$ 10 mil em equipamentos de iluminação e maquinaria, do Prêmio Quanta.

- Se por um lado é muito importante estar recebendo este prêmio, pois o dinheiro ajudará a pagar as dívidas do filme, por outro é muito estranho ganhar sem concorrer com ninguém. O governo devia incentivar a produção de longas para que outras pessoas tenham oportunidade de subir aqui - destacou Belmonte. Desde 1997 não há editais para longas-metragens no DF.

Ainda entre os longas-metragens, o documentário À Margem do Concreto saiu consagrado do festival. Ele foi o escolhido pelo público como melhor filme e recebeu o prêmio especial do júri oficial pela visão crítica com que tratou o tema dos movimentos dos sem moradia de São Paulo. O diretor Evaldo Mocazel subiu ao palco ao lado Verônica Kroll, representante da União dos Movimentos Sem Moradia de São Paulo.

- Atingimos quem queríamos atingir, o público. Agora nós temos que chegar às portas dos Palácios, do Congresso, que ainda estão com as portas fechadas - afirmou Verônica, agradecendo pelo filme ter dado voz ao movimento, mostrando o lado deles.

O Veneno da Madrugada, de Ruy Guerra, recebeu os prêmios de direção de arte e fotografia. Incuráveis ficou com o Candango de melhor ator concedido a Fernando Eiras. Apesar de ter sido aplaudido e elogiado pelo público, Depois daquele baile, do estreante Roberto Bomtempo, não foi premiado.