Título: Partido dos Trabalhadores em greve
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2005, País, p. A3

Funcionários da sede do Partido dos Trabalhadores declararam greve ontem em São Paulo cruzaram os braços devido ao não cumprimento de uma máxima da legenda: os direitos trabalhistas. Os empregados reclamam que ainda não receberam os salários do mês de novembro, conforme informou a Central Única dos Trabalhadores (CUT), sem entretanto, dizer quantos aderiram à greve.

Para tentar pagar a dívida declarada de R$ 42 milhões e outros compromissos, o PT iniciou no mês passado uma grande campanha nacional entre seus militantes para arrecadar doações, sem que até o momento se saiba quanto foi obtido. O objetivo era recolher ao menos R$ 13 milhões.

A nova direção do partido, que assumiu em outubro, disse ter encontrado a legenda em uma situação financeira crítica. A folha de pagamentos foi cortada em 40%, de R$ 650 mil mensais para R$ 320 mil, mas nem assim o partido conseguiu honrar seus compromissos.

Porta-vozes da CUT disseram que o único salário atrasado é o correspondente ao mês de novembro, mas decidiram declarar a greve devido ao fato de terem sido informados, de última hora, que não iriam receber os salários.

Ontem, na sede nacional do PT, ninguém atendia os telefones. Mas, em mais uma má notícia para o partido, dois auditores da Receita estiveram no local para pedir os dados contábeis da legenda dos anos de 2000 a 2004. Segundo o secretário de Finanças, Paulo Ferreira, não foi explicado ao PT o motivo da auditoria.

A Receita decidiu submeter à auditoria as contabilidades de PT, PP, PL e PTB. Os quatro partidos estão envolvidos em denúncias de financiamento ilegal de campanha e de compra de votos de deputados.

No mês passado, tendo como argumento a crise financeira, 40 funcionários da sede central, em São Paulo, foram demitidos.

- Precisamos reestruturar o PT internamente. A ação dos grevistas é precipitada, porque temos até o quinto dia útil para efetuar os pagamentos - argumentou o secretário de Finanças do partido, Paulo Ferreira, na sede do PT.

Paulo Ferreira adiantou que os salários podem atrasar novamente. Segundo os grevistas, havia acordo com o partido para que um aviso fosse feito 10 dias antes do atraso.

Os funcionários que recebem até R$ 1,5 mil por mês, que são 42 dos 79 empregados do partido seriam pagos ainda ontem, segundo o secretário de Finanças do PT. Os outros devem receber até o dia 10.

O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) acusou ontem, no plenário, o PT de tomar dinheiro de empresários de forma irregular para fazer caixa de campanha em cidades onde a agremiação detinha o poder das prefeituras e, agora, deve a pessoas que trabalham ou trabalharam para o partido.

- O PT está engolindo tudo aquilo que assacou contra os outros. Que coisa triste se passar pela porta do partido em São Paulo e ver os servidores na porta. Como será que eles vão fazer seu protesto? Será que vão empunhar bandeiras da CUT? - ironizou o senador, que prosseguiu:

O senador Paulo Paim (PT-RS) respondeu que o pagamento dos funcionários que trabalhavam para o PT deve ser prioridade número um entre as dívidas do partido.

- O PT deve pagar os direitos de todos os funcionários e deve negociar logo essa questão - disse Paim.

O secretário-adjunto de Organização, Francisco Campos, culpou a gestão de José Genoino pela crise. Esta gestão é acusada de montar o esquema de caixa 2.

- Os funcionários precisam entender que o PT não tinha como cumprir com a agenda combinada por conta de questões que vêm da outra gestão - argumentou.