Correio Braziliense, n. 21858, 20/01/2023. Político, p. 3
Ameaças de ex-GSI
Homem que exerceu função de confiança no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sob o comando do general Augusto Heleno por três anos, o coronel do Exército José Placídio Matias dos Santos defendeu, em 8 de janeiro, que coronéis com comando de tropa se rebelassem e “entrassem no jogo, desta vez do lado certo”. O oficial se dirigiu diretamente ao comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, para que ele se colocasse à frente de um golpe de Estado.
“General Arruda, o Brasil e o Exército esperam que o senhor cumpra o seu dever de não se submeter às ordens do maior ladrão da história da humanidade. O senhor sempre teve e tem o meu respeito. Força!”, escreveu Placídio no Twitter. Ele e outros oficiais, além de bolsonaristas civis, nos dias que antecederam e na data do ataque às sedes dos três Poderes, viam em coronéis com comando de tropa uma alternativa aos generais que se recusavam a agir para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Placídio, que foi nomeado em fevereiro de 2019 na Assessoria de Planejamento e Assuntos Estratégicos da Secretaria Executiva do GSI, postou ainda no dia 8: “Brasília está agitada com a ação dos patriotas. Excelente oportunidade para as FA (Forças Armadas) entrarem no jogo, desta vez do lado certo. Onde estão os briosos coronéis com tropa na mão?” No mesmo dia, o coronel da reserva fez postagem em que atacava o ministro da Justiça, Flávio Dino: “Sua purpurina vai acabar”. Placídio ficou no GSI até março de 2022.
Ofensas
Oficial da Arma de Infantaria, ele tem curso de forças especiais, como outros suspeitos de incentivar a quebra de hierarquia. Dois dias antes, havia atacado o comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen. “Marinha do Brasil! Sai um herói patriota, entra uma prostituta do ladrão, com o devido respeito a elas. Venha me punir, almirante, e me distinga em definitivo da sua estirpe.” Ele se referia ao fato de o almirante Almir Garnier ter se recusado a passar o comando da Marinha em protesto contra Lula. Na posse, Olsen agradeceu ao presidente.
Na noite do dia 8, após os atos extremistas em Brasília, o general Arruda se reuniu com Dino e os ministros José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil). No encontro, decidiu-se cumprir na manhã do dia 9 a ordem de prisão contra os cerca de 1,2 mil acampados em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.
No dia seguinte aos ataques, Placídio afirmou que centenas de oficiais da ativa tinham participado dos atos. Nenhum foi identificado. Até agora, o Exército puniu o coronel da reserva Adriano Testoni, que foi aos atos e ofendeu generais. Segundo o comando da Força, Placídio também será investigado. O oficial apagou, ontem, parte de suas publicações.
Outro oficial que incentivou a ação em Brasília foi o coronel Fernando Montenegro. No Twitter, ele fazia enquetes defendendo “intervenção militar”. Montenegro teve a conta bloqueada pela Justiça em dezembro, mas continuou ativo. No dia 8, enviou mensagem aos radicais em Brasília: “Façam o que deve ser feito”.
As manifestações dos coronéis ocorreram após o assédio a generais da ativa fracassar. Desde novembro, o Comando do Exército era alvo de pressões de bolsonaristas para não reconhecer o resultado da eleição.