Título: A decepção de Serraglio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2005, País, p. A5

Apesar de considerar indícios de sonegação, falsidade e lavagem de dinheiro a impressão de 80 mil notas fiscais frias pelo publicitário Marcos Valério de Souza, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem achar ''difícil'' que ele seja punido pelos supostos crimes que cometeu devido à ''impunidade existente no país''. Serraglio ainda disse esperar que o Ministério Público e a Polícia Federal peçam a prisão preventiva de Valério sob a acusação de que ele está alterando os registros contábeis de suas empresas para supostamente atrapalhar as investigações. O relator, no entanto, não está confiante disso pelo falto de o publicitário estar comparecendo, até voluntariamente, para prestar depoimentos.

- Com esses dados das notas falsas é de se supor que a Polícia Federal requeira a prisão preventiva. Temos interesse nisso - afirmou o relator.

Em julho o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, negou pedido de prisão preventiva do publicitário apresentado pela Polícia Federal alegando que ele deveria ter sido feito pela Procuradoria Geral da República que, por sua vez, disse aos parlamentares da CPI que precisava de mais provas.

- Valério parece ter absoluta confiança na impunidade desse país e espera o processo, que com bons advogados, vai acabar nas calendas. É difícil falar que Marcos Valério, que tem meios, recursos e força, responderá amanhã pelo que fez - afirmou Serraglio.

O pedido de prisão preventiva em julho foi motivado por uma operação da Polícia Civil de Minas Gerais que apreendeu mais de 2 mil notas fiscais da DNA, agência de Valério, que estavam sendo queimadas na casa do irmão de Marco Prata, contador do publicitário.

Agora um laudo contábil da Polícia Federal, revelado ontem pela CPI dos Correios, apontou que a DNA e a SMPB, outra empresa de Valério, imprimiram 80 mil notas fiscais falsas e emitiram pelo menos quatro delas para justificar o recebimento de recursos de empresas públicas com as quais mantinham contrato, como o Banco do Brasil e a Eletronorte.

- É uma fraude generalizada e a gente até se perde. Cada vez que achamos que estamos chegando ao final, vemos que estamos apenas começando uma investigação intrincada - constata Osmar Serraglio.

Em nota distribuída ontem, Marcos Valério informou que todas as notas fiscais estão devidamente lançadas na contabilidade e com os devidos impostos retidos na fonte. Ele afirmou ainda que a a DNA e a SMPB ainda não tiveram acesso ao laudo. Prometeu que quando isso acontecer, as empresas vão se pronunciar sobre eventuais incorreções.

Para o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), integrante da CPI, Valério fabricou as notas falsas para justificar o aumento artificial de receita. Segundo ele, a contabilidade das agências de publicidade segue um padrão de aumento de receita com posterior aumento de despesa, devido ao pagamento de fornecedores e de veiculação de anúncios.

- Entrou dinheiro ali que não teve a despesa correspondente. Estamos vendo que o valerioduto era muito mais do que os R$ 55 milhões dos contratos de empréstimos bancários - afirmou o deputado.

Relatório parcial da CPI que não chegou a ser votado, por resistência do PT, concluiu que esses empréstimos tomados nos bancos BMG e Rural por Valério e repassados ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram uma ''farsa'' para encobrir a verdadeira origem do dinheiro.