O Globo, n. 26.221, 22/05/2005, O País, p. 14

 

O GLOBO comemora oito décadas

 

Aniversário do jornal será marcado por publicações especiais, colunas, exposições e debates

 

Em 29 de julho de 1925, uma quarta-feira, do prédio do Lyceu de Artes e Offícios, na Rua Bethencourt da Silva, no Centro do Rio, quatro carros saíram para distribuir os 33.435 exemplares do mais novo jornal da então capital da República. A partir daquele momento, o destino do GLOBO estava nas mãos dos cariocas. Na primeira página  que trazia a manchete Voltam-se as vistas para a nossa borracha vinha a prece: São Gutemberg proteja O GLOBO.

Começava assim o primeiro capítulo de uma história que em julho completará 80 anos. A data não passará em branco: até o fim do ano uma série de iniciativas celebrará a trajetória do jornal  hoje um dos mais influentes do país  desde sua fundação.

E a festa de aniversário começa cedo. Na próxima quarta-feira, e durante as 25 semanas seguintes, uma coluna levará o leitor a um passeio pelos arquivos do jornal. O GLOBO relembrará alguns dos momentos mais representativos dos seus 80 anos de vida. Nas colunas, sempre às quartas-feiras, na editoria O País, serão publicados, por exemplo, textos, fotos e curiosidades sobre a trajetória do jornal que fizeram história na imprensa brasileira.

Na estréia da coluna, a chance de matar as saudades das crônicas de Nelson Rodrigues, com a reprodução de um texto de 1968, em que o mais importante dramaturgo brasileiro critica a moda do biquíni. Nelson foi colunista do jornal de 1931 a 1945 e de 1967 até sua morte, em 1980.

Série especial de revistas começa no sábado

Além disso, no próximo sábado, circulará encartada no jornal a primeira de uma série de seis revistas. Os suplementos especiais contarão oito décadas de história do Brasil e do mundo, através das páginas do GLOBO.

O primeiro número trará um panorama da cobertura dos principais fatos internacionais, com reproduções de edições históricas e depoimentos de profissionais que acompanharam de perto alguns dos principais fatos mundiais.

Com periodicidade mensal, no último sábado de cada mês, os números seguintes relembrarão como O GLOBO registrou a evolução do Rio, do país, da economia, do esporte, da cultura e do comportamento.

CCBB mostrará fotos e primeiras páginas famosas

Os 80 anos também serão comemorados, a partir de 26 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil, com uma exposição de fotos selecionadas no acervo de cinco milhões de imagens e de primeiras páginas do jornal, muitas delas históricas. A curadoria do evento é do colunista Luiz Garcia. Depois do Rio, a mostra segue para São Paulo e Brasília.

Uma segunda exposição, no segundo semestre, reunirá anúncios publicados no jornal desde a sua fundação. A seleção  que inclui temas como moda, transportes, saúde, utilidades domésticas e imóveis ¿ retrata as mudanças de comportamento da sociedade brasileira, ao longo das últimas décadas. O curador da exposição é o publicitário Lula Vieira.

A partir de julho, os leitores também vão ter a chance de debater com profissionais do GLOBO e convidados temas referentes ao trabalho da imprensa. Na abertura da série especial, que faz parte do projeto Encontros O GLOBO, o tema será as relações do jornalismo com o poder.

Encerrando a festa, no fim do ano, será lançado um livro com a seleção das mais importantes primeiras páginas do GLOBO.

 

 

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 Um jornal sempre em busca do novo

Desde o início, empresa associou qualidade de informação e tecnologia

Na primeira metade do século passado, houve épocas em que o Rio chegou a ter simultaneamente 30 diários. Foi num tempo assim, de forte concorrência, que O GLOBO nasceu. Se o jornal fundado por Irineu Marinho em 29 de julho de 1925 chega aos 80 anos, os cariocas assistiram ao desaparecimento de vários títulos da imprensa nacional, nascidos pouco depois de O GLOBO. Roberto Marinho, filho do fundador e que fez do GLOBO a semente do maior grupo de comunicação da América Latina, tinha uma explicação para a prosperidade de seu negócio:

Nenhuma empresa prospera sem planejar. Para a empresa jornalística, trabalhar pensando nos dias que virão é também teste de competência em sua área de ação específica. De fato, nós que temos os fatos do presente como matéria-prima, faríamos triste papel se nos revelássemos ineptos na preparação do futuro  disse ele em 1992.

O GLOBO chega aos 80 anos após ter se modernizado, criado uma versão eletrônica na internet e construído o mais moderno parque gráfico da América Latina. O jornal conquistou numerosos prêmios de excelência. Um bom exemplo é o Prêmio Esso, o principal da imprensa brasileira. Nos 49 anos de existência da premiação, O GLOBO foi vitorioso 44 vezes em diversas categorias, com reportagens como Os homens de bens na Alerj (2004), Traficantes nos quartéis¿ (2003) e Sentenças suspeitas (2002), para citar exemplos recentes.

O GLOBO introduziu várias novidades na imprensa

Na biografia do jornalista Roberto Marinho, assinada por Pedro Bial, é destacada a total sintonia do fundador do GLOBO, Irineu Marinho, com o gosto do carioca médio, qualidade que seria herdada por seu filho.

Vinte e três dias depois da fundação do jornal, Irineu Marinho morria. E a responsabilidade de tocar o novo jornal foi passada ao seu primogênito, Roberto, então com 20 anos.

Um jornal começa a morrer dez anos antes, costumava dizer Roberto Marinho para explicar a sua busca obsessiva pelo novo. Dentro dessa perspectiva, O GLOBO estreou no Brasil, por exemplo, o uso das cores diariamente na primeira página e a telefoto, tanto em preto-e-branco (1936) como em cores (1979).

Ao longo desses 80 anos, o jornal tem sido a casa de nomes que marcaram a imprensa e as artes. No passado brilharam os irmãos Nelson Rodrigues e Mário Filho, José Lins do Rego, Thiago de Mello, Antônio Maria, etc. Hoje, o time de profissionais traz Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura, Arnaldo Jabor, Artur Xexéo, Joaquim Ferreira dos Santos, João Ubaldo Ribeiro, Chico Caruso, Roberto DaMatta, Míriam Leitão e Merval Pereira entre outros.

O jornal cresceu muito e depressa em suas primeiras décadas, investindo em campanhas que reforçaram sua marca no Rio. No início dos anos 50, a antiga redação da Rua Bethencourt da Silva se tornou pequena. Por isso, em outubro de 1954, o jornal se mudou para o atual endereço, na Cidade Nova.

A partir dos anos 60, jornal ganhou novos suplementos

A década de 60 trouxe mudanças no conteúdo, com novos suplementos. Em 1969, os classificados deixaram de se misturar com o noticiário do GLOBO e ganharam um caderno só seu. Pouco depois, em 72, finalmente o jornal passou a circular também aos domingos. Também neste ano nasceu o Jornal da Família. Em 82, O GLOBO diversificou ainda mais seus produtos, lançando 12 Jornais de Bairro. Nos anos 90 foi a vez da criação do caderno Informática Etc e do GLOBO On, o ingresso do jornal na internet.

Na apresentação da ampla reforma gráfica pela qual passou O GLOBO em 95, quando o jornal completou 70 anos, Roberto Marinho sublinharia a importância desse investimento: Hoje você está lendo as primeiras páginas dos 70 anos que virão, disse o jornalista num texto para explicar aos leitores a reformulação.

Nesta primeira década do século XXI, a primeira sem a presença do jornalista Roberto Marinho morto no dia 6 de agosto de 2003  O GLOBO continua a passar por transformações, unindo tecnologia e qualidade de informação. No ano passado, o jornal lançou sua revista dominical, um antigo sonho. O ano do 80º aniversário começou com uma prova de que O GLOBO está no caminho certo: o Estudo Anual Barômetro de Confiança da Edelman, apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, mostrou que o jornal é o que tem maior credibilidade entre todos os meios de comunicação brasileiros.

 

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GLOBO Online terá site especial
 

No começo dos anos 50, O GLOBO publicou uma série de denúncias sobre a corrupção que marcou o último mandato de Getúlio Vargas. No dia do suicídio do presidente, em 1954, o jornal pagou o preço da ousadia: a comoção pela morte do líder fez uma multidão de getulistas cercar e tentar invadir a redação. Acuados, Roberto Marinho e seu irmão Rogério preparam-se para o pior: de armas na mão, aguardaram os manifestantes. Iam defender O GLOBO até o fim.

A invasão acabou não acontecendo, mas os minutos de tensão são lembrados até hoje por Rogério Marinho, atualmente vice-presidente da Infoglobo Comunicações. A descrição emocionada desse episódio, contada por ele próprio, faz parte de uma série de depoimentos em vídeo sobre a história do jornal que o GLOBO Online (www.oglobo.com.br) exibe a partir de sábado que vem, como parte das comemorações pelos 80 anos do GLOBO.

Os depoimentos integram um site especial, carregado de recursos de multimídia e de interatividade. Nele, os internautas poderão acompanhar, por meio de uma linha do tempo interativa, rica em vídeos e imagens de época, as principais coberturas, fatos curiosos e perfis de grandes profissionais que passaram pelo GLOBO.

O ambiente on-line dos 80 anos do GLOBO também chamará o público para atuar na festa. No blog O GLOBO e eu, leitores poderão contar histórias que viveram com o jornal ao longo de seus 80 anos.