Correio Braziliense, n. 21859, 21/01/2023. Político, p. 4
Lula sela paz com militares
Ingrid Soares
Tainá Andrade
Henrique Lessa
Após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PL) com os comandantes das Forças Armadas, o ministro da Defesa, José Múcio, falou em “página virada”, em alusão à preocupação do governo com a politização das corporações e com a presença de militares nos atos golpistas de 8 de janeiro. Segundo ele, o encontro no Palácio do Planalto serviu para “renovar a confiança” nos militares.
A estratégia foi usada nas outras gestões do petista, que sempre lidou com a animosidade da caserna. Lula já admitiu desconfiança ao declarar que os serviços de inteligência erraram ao não identificar que a manifestação bolsonarista em Brasília poderia resultar em vandalismo.
Segundo fontes das três Forças, a estratégia funcionou, os comandantes militares saíram satisfeitos do encontro com Lula, e confirmaram que as conversas sobre os ataques do dia 8 foram breves. No entendimento dos militares ouvidos pelo Correio, a investigação está com a Polícia Federal e com a Justiça, e apenas depois da identificação dos militares envolvidos no quebra-quebra é que as Forças devem atuar. A posição foi corroborada pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao dizer que “o Brasil vai voltar a ter um plano de defesa, aliás, esse foi o comentário dos comandantes das Forças Armadas, eles ficaram muito bem impressionados com a dedicação do presidente Lula ao longo da reunião de dialogar sobre os temas, de opinar sobre eles”.
Estavam presentes os comandantes do Exército, general Júlio Cesar de Arruda; da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno; e da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen — que foi alvo de críticas do coronel José Placídio Matias dos Santos, lotado em cargo de confiança no Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
José Múcio destacou ser preciso “pensar para frente”, “pacificar o país” e “governar”. E emendou que o encontro, que durou cerca de duas horas, teve a intenção de criar uma agenda positiva do governo Lula na área de defesa. “Eu queria virar a página”, disse Múcio. Sobre os ataques terroristas, ele disse que esse assunto está na alçada da Justiça e que aguarda “comprovações” da participação de militares nos atos.
Providências
“Nós não tratamos do dia 8, isso está com a Justiça. Nós estamos atrás e aguardando as comprovações para que as providências sejam tomadas. Evidentemente que, no calor da emoção, a gente precisa ter cuidado para que essas acusações sejam justas, para que as penas sejam justas, mas tudo será providenciado em seu tempo”, assegurou.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o Ministério da Justiça identificou ao menos oito militares da ativa lotados no Palácio do Planalto que estiveram nos atos antidemocráticos e no acampamento golpista em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. O ministro declarou que os comandantes militares concordam com punições aos fardados que forem identificados.
“Eu entendo que não houve envolvimento direto das Forças Armadas (nos atos antidemocráticos), mas, se algum elemento individualmente teve a sua participação, ele vai responder como cidadão. Os militares estão cientes e concordam que nós vamos tomar essas providências.”
O ministro ressaltou que o presidente Lula passou aos comandantes uma mensagem de “entusiasmo e de fé no trabalho deles”. “Lula disse que acreditava no trabalho deles, tanto que nós, hoje (ontem), tratamos de uma agenda absolutamente diferente”, declarou. O encontro focou no plano de investimentos da indústria de defesa do Brasil, apresentado pelo presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, com o objetivo de propor soluções para aplicar recursos no setor e ampliar a tecnologia. Por meio das redes sociais, Lula reforçou que, na reunião, foi discutido o “potencial da indústria de defesa para geração de empregos, com planejamento e investimento em tecnologia”.