Título: Milésima execução reacende debate
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2005, Internacional, p. A7

A milésima execução nos Estados Unidos, desde a reinstituição da pena de morte, em 1976, esquentou o debate em torno do tema. Apesar de a maioria dos americanos ainda ser a favor da punição, o apoio à medida vem diminuindo ao longo dos anos. Hoje, pouco mais da metade da população aprova a condenação. Em 1994, eram 80%.

O caso de Kenneth Lee Boyd, executado na madrugada de ontem, levou cerca de 200 manifestantes à rua da penitenciária de Raleigh, capital da Carolina do Norte. O grupo permaneceu no local por mais de cinco horas e recitou os nomes dos 999 mortos até então pela pena de morte. Dezesseis pessoas foram presas.

- Queria que se lembrassem de Kenny, não apenas de um número - disse, emocionado, Alan Gell, ex-detento que passou quatro anos no corredor da morte ao lado do preso executado antes de ser declarado inocente, em 2004. Boyd, 57 anos, um veterano do Vietnã com problemas de alcoolismo, foi condenado à pena capital em 1994, por ter assassinado, seis anos antes, a ex-mulher e seu sogro na frente dos filhos.

- Só quero pedir a Kathy, minha nora, que cuide de meu filho e netos. Que Deus abençoe todos os que estão aqui - disse, antes de receber a injeção letal.

''Como cristãos, nós o perdoamos'', afirmou, em comunicado, a família das vítimas. ''Este não é, de modo algum, um dia glorioso ou de vitória para nós, mas a justiça teve a última palavra e ele foi punido pelas leis vigentes'', continua o texto.

A polêmica deve esquentar no dia 13, data da execução de Stanley ''Tookie'' Williams, ex-integrante da gangue ''Crips'' que se converteu em ativista antiviolência e foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. A execução de Williams, pelo suposto assassinato de quatro pessoas há 26 anos, foi ratificada pela Corte Suprema da Califórnia. Agora, seu destino está nas mãos da Suprema Corte e, em última instância, do governador Arnold Schwarzenegger.

Na Austrália, o clima ontem era de revolta. O australiano Nguyen Tuong Van, 25 anos, foi enforcado em Cingapura por tráfico de drogas. O jovem foi condenado em 2002 por portar 400 gramas de heroína num país que estipula a pena para o porte de mais de 15 gramas da droga. A execução irritou o governo australiano, que vinha insistindo em na comutação da pena.