Correio Braziliense, n. 21860, 22/01/2023. Político, p. 3

Hora de reatar laços com os vizinhos

Ingrid Soares


Em sua primeira viagem internacional oficial, priorizando relações vizinhas da América Latina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja, neste domingo, para a Argentina, maior parceiro comercial do brasileiro na região e terceiro mundial, atrás de China e Estados Unidos. E, amanhã, o chefe do Executivo começa a agenda oficial em Buenos Aires participando da tradicional oferenda de flores na Praça San Martín, seguida de uma reunião com o presidente Alberto Fernández, além de participar de um encontro com empresários.

Na comitiva presidencial, acompanham o presidente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva.

À noite, os dois presidentes assistirão a um concerto musical com artistas argentinos e brasileiros no Centro Cultural Kirchner. 

Na terça-feira, Lula participará da reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires, marcando a volta do país ao bloco composto por outros 32 países. O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) havia suspendido a participação do Brasil na gestão anterior. Durante o evento, há expectativa de que o petista também se reúna com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Lula deve assinar um acordo com a Argentina para cooperação científica e logística nas estações dos dois países na Antártida. Outro ponto que deve ser discutido é a negociação de um gasoduto entre ambos os países. De acordo com o secretário das Américas do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Michel Arslanian Neto, “a escolha de um país da América do Sul passa a importante mensagem de que o país quer retomar os laços com a região”, negligenciados durante o governo anterior.

Entre os temas a serem tratados está a integração energética, comércio e investimentos, ambiente, infraestrutura, defesa, desarmamento, combate a ilícitos, espaço, cultura e questões de gênero. 

Ao Correio, o assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República e ex-chanceler Celso Amorim comentou que a ida à Argentina mostra a relação de amizade profunda entre os países. E apontou a importância da retomada do Brasil na Celac e a possibilidade de projetos no âmbito de financiamentos, gasodutos e infraestrutura. O país vizinho é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil.

“Há projetos importantes para o fortalecimento de integração envolvendo possibilidade de financiamentos, gasodutos, infraestrutura, além da ampla política em relação à integração. A outra agenda é a reunião da Celac, o Brasil tinha vergonhosamente saído e voltará ao foro. A motivação principal é a integração sul-americana. É possível que Lula levante temas como a retomada da União de Nações Sul-americanas (Unasul). Ele ainda vai decidir. Naturalmente que, em uma reunião assim, alguns países queiram também reuniões bilaterais, ainda que rápidas com Lula”.

Antes de retornar ao Brasil, Lula visitará o Uruguai, no dia 25, a convite do líder uruguaio, Luis Lacalle Pou, em mais um sinal de retomada das boas relações com os países vizinhos, uma marca da diplomacia brasileira. Há outras viagens internacionais já programadas para o começo deste ano, como Estados Unidos — onde deverá se reunir com Joe Biden dia 10 de fevereiro —, e China, prevista para março, e Portugal, provavelmente em abril.

Com essas viagens, Lula busca iniciar o processo de recuperar a imagem do Brasil no cenário internacional, retirando o país do isolamento deixado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). Em outra frente, Lula enviou a Caracas, na Venezuela, uma missão diplomática para dar início às providências para a reabertura da Embaixada do Brasil no país, fechada desde março de 2020, por iniciativa do governo anterior.