Título: A sombra tucana de Dirceu
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 04/12/2005, País, p. A4

Advogado do petista, que é eleitor do PSDB, comanda o escritório como uma butique

Do processo que levou à cassação dos direitos políticos do deputado José Dirceu (PT-SP) saiu um vitorioso inesperado: o jovem advogado de defesa José Luiz de Oliveira Lima. Até então no anonimato, ele atraiu os holofotes ao conseguir aproveitar todas as brechas legais para manter o mandato do ex-homem forte do governo Lula. Não foi por convicção ideológica que o advogado defendeu o deputado petista. Ele declara abertamente que não tem nenhuma afinidade política com o cliente. - Sou um tucano. Sempre fui eleitor do PSDB - ressalta, admitindo que votou em José Serra nas eleições de 2002, que levaram Lula à presidência. O advogado de 39 anos chamou a atenção da mídia, tirou a paciência de deputados e provocou um fervoroso debate entre os sessentões experientes da área jurídica, ao conseguir quatro liminares no Supremo Tribunal Federal (STF), que postergaram por 75 dias a votação do processo de Dirceu no plenário da Câmara. Mesmo com todo esse sucesso, ele garante que, até agora, não aumentou o número de clientes do escritório do qual é dono, e nem mesmo a procura dos políticos. E desconversa sobre o assunto. - Sou conhecido do Congresso. Já atuei em CPIs. Mas não estou preocupado com isso. O escritório é pequeno como uma butique, e prefiro que continue assim - diz. Ele se nega a dizer quanto recebeu de José Dirceu pelo processo que exigiu quatro meses de dedicação integral. Não revela também quanto cobra normalmente pelos honorários. - Esse assunto faz parte da minha relação com o cliente. Não vou responder - afirma, irritado com a pergunta. Discreto, Oliveira Lima limita-se a dizer sobre sua vida pessoal que é pai de quatro filhos, está no segundo casamento e é fumante compulsivo. É público que já foi casado com a jornalista Mônica Dallari, filha do jurista Dalmo Dallari, que hoje namora o senador Eduardo Suplicy. O nome da segunda esposa ainda é um mistério. Pressionado para contar algum hobbie, ele revela apenas a paixão pelo Palmeiras. Se não foi por dinheiro, fama ou ideologia, então porque Oliveira Lima defendeu Dirceu? A resposta é inusitada: - Foi um pedido de meu tio, José Carlos Dias, que aliás sempre foi meu mentor profissional. José Carlos Dias foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, mas é amigo pessoal de Dirceu, que também é advogado. Como Dias já defendia o Banco Rural, envolvido nas CPIs, seria conflito de interesses atuar também no processo de cassação do deputado. Advogado criminalista, Oliveira Lima diz que aceita qualquer tipo de processo penal. Apesar de ter experiência com políticos, defende casos de assassinatos a crimes financeiros. Ele acrescenta que não foi procurado por outros políticos durante o processo. O caso de Dirceu não foi o primeiro no Congresso. Aos 27 anos, ele atuou na CPI dos Anões do Orçamento na defesa de um empresário cujo nome mantém em segredo. A informação nunca veio a público porque o cliente não chegou a prestar depoimento na comissão. Entre os políticos que já defendeu está o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O advogado não se intimida com o bombardeio de críticas de quem foi contrário à interferência do Judiciário em questões internas da Câmara, após cinco pedidos de liminar no STF. - A maioria dos juristas entendeu que eu estava atuando pelo direito de defesa do meu cliente. Os que se manifestaram contra são os de esquerda de sempre. O legado que fica deste processo é que o direito de ampla defesa está assegurado. O STF deixou isso claro - comemora. Logo após o afago aos ministros do Supremo, ele critica a decisão do ''voto médio'', que apenas retirou do relatório do deputado Júlio Delgado o depoimento da presidente do banco Rural, Kátia Rabello, e acabou apressando a votação que destituiu o ex-ministro. - Eu respeito a decisão do Judiciário, mas foi uma opção equivocada - declara.