Valor Econômico, v. 20, n. 4976, 07/04/2020. Finanças, p. C2

Mercados iniciam semana com forte alta com sinal de estabilização de vírus

Marcelle Gutierrez
Marcelo Osakabe
Ana Carolina Neira
Gabriel Roca
André Mizutani


Os investidores voltaram às compras nos mercados acionários globais no primeiro pregão da semana, embalados por sinais de que a pandemia do novo coronavírus na Europa e nos Estados Unidos possa estar se estabilizando. No Brasil, o dia também foi de ganho expressivo na bolsa de valores: o Ibovespa fechou com valorização de 6,52%, aos 74.072 pontos.

Na Itália e na Espanha, a taxa de infecção diminuiu, com o número de casos confirmados subindo menos de 5% em relação ao dia anterior nos dois países. Além disso, o número de mortes diárias recuou na comparação há uma semana. Nos EUA, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, afirmou que o número de mortes diárias provocadas pela covid-19, ficou “praticamente estável” no Estado nos últimos dois dias.

O cenário menos desanimador ajudou os índices a fecharem em Wall Street em seu maior nível desde 13 de março. O Dow Jones encerrou em alta de 7,73%, aos 22.679,99 pontos, enquanto o S&P 500 avançou 7,03%, aos 2.663,68 pontos. O Nasdaq subiu 7,33%. Na Alemanha, o DAX teve alta de 5,77% e, em Paris, o CAC 40 avançou 4,61%.

O mercado local apenas não teve um dia melhor por conta de ruídos no campo político. Enquanto crescia, na tarde de ontem, o temor de que o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, fosse substituído, os ativos perdiam força. O dólar, por exemplo, chegou a bater a mínima intradiária de R$ 5,2248, mas acabou por fechar a R$ 5,2940 - queda de 0,63%. 

Ibovespa chegou a subir 8,22% na máxima do dia, antes de perder fôlego.

A justificativa para os ganhos da bolsa brasileira veio da diminuição da velocidade da pandemia da covid-19 em países fortemente afetados, o que sinalizou ao mercado que a crise pode estar próxima do ápice naqueles países. Junto, vieram medidas do Banco Central para amenizar os efeitos econômicos da crise, impulsionando as ações dos bancos, responsáveis por cerca de 20% do Ibovespa. Itaú Unibanco PN subiu 7,36% e Bradesco ON teve alta de 10,13%, seguidas por Bradesco PN (9,47%), Banco do Brasil ON (9,25%) e Santander unit (10,81%).

O banco Morgan Stanley, em relatório, apontou o Itaú como destaque do setor por mostrar-se mais resiliente ao período de recessão que está por vir. O Goldman Sachs recomendou a compra de ações do Itaú e do Bradesco por acreditar que todo o setor bancário está bastante desvalorizado nos últimos meses e o desempenho recente das ações já reflete uma “profunda recessão”.

Apesar do aparente bom-humor dos mercados globais, analistas continuam encarando com ceticismo a recuperação dos ativos de risco pelo mundo. Scott Minerd, chefe de investimentos globais da Guggenheim Partners, disse à “Dow Jones” que o pior ainda pode estar por vir no mercado de renda variável. “Se os ganhos corporativos continuarem a cair da maneira que esperamos, os lucros do S&P poderão chegar a US$ 100 por ação este ano”, afirmou, alertando que isso poderia colocar o índice na casa dos 1.500 pontos, no pior cenário.

Todo mundo está desesperado por boas notícias”, disse Peter Cecchini, estrategista-chefe de mercado da Cantor Fitzgerald, à Dow Jones Newswires. “Isso [o dia de ontem] não reflete necessariamente nenhum fundamento. Nada mudou”, afirmou.

Os rendimentos dos Treasuries, que avançam quando os preços recuam, fecharam o dia em alta ontem. O juro da T-note de dez anos subiu para 0,67%, de 0,62% do fechamento de sexta-feira.

Mislav Matejka, diretor de estratégia global de ações do J.P. Morgan, alertou em relatório que há uma chance significativa de a economia global experimentar “um ciclo vicioso, típico de recessões, entre demanda final fraca, mercados de trabalho mais fracos, lucros decrescentes, mercados de créditos fracos e baixos preços do petróleo”.