O Globo, n. 32520, 20/08/2022. Política, p. 5
Primeira-dama e cabo eleitoral, Michelle monta sua ‘bancada’
Daniel Gullino
Eduardo Gonçalves
Peça-chave na campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, a primeira-dama Michelle Bolsonaro tem usado suas redes sociais para impulsionar candidatos pelo país. Ela tem divulgado para seus mais de três milhões de seguidores declarações de apoio a candidaturas a governador, deputado e senador, mas nem sempre alinhadas às alianças eleitorais do marido. Nas últimas semanas, Michelle aumentou sua presença em eventos ao lado de Bolsonaro, após estrategistas da campanha identificarem que ela tem potencial de reduzir a rejeição do presidente entre as mulheres e consolidar o apoio de evangélicos. Apesar disso, o anúncio dos candidatos que ela apoia é feito por conta própria, sem envolvimento do grupo que toca o projeto de reeleição do chefe do Planalto. Até agora, a primeira-dama divulgou seis candidaturas. A que teve mais destaque é da ex ministra Damares Alves( Republicanos ), a quem conhece desde a época em que as duas eram assessoras na Câmara.
No mês passado, Bolsonaro chegou a pedir a Damares que desistisse da candidatura em favor da também ex-ministra Flávia Arruda, que disputará o Senado na chapa do atual governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Michelle, contudo, atuou para quebrar a resistência de Bolsonaro em aceitar ter as duas ex-ministras concorrendo à mesma vaga. Nesta semana, a primeira-dama gravou o primeiro vídeo de campanha para Damares, que deve ser divulgado nas redes sociais da candidata nos próximos dias.
— Olá, minha Brasília amada. Estou aqui hoje para te apresentar a minha candidata ao Senado Federal. Essa mulher que tem fé, resiliência, coragem para lutar por aqueles que mais precisam. Com Damares no Senado, ninguém vai ficar para trás — diz a primeira-dama no vídeo. Damares atribuiu o apoio da primeira-dama à bandeira de apoio a pessoas com deficiência, que disse compartilhar. Quando ainda era ministra, ela atuou ao lado de Michelle em projetos que previam auxílio a esses grupos.
— Ela queria muito por causa das PcD (pessoa com deficiência). Nós só temos no Senado a Mara (Gabrilli, do PSDB, candidata a vice de Simone Tebet) e o Romário. Isso estava incomodando muito a Michelle. E a Michelle vê em mim essa voz para os PcD e pessoas com doença rara. Ela vem para a campanha — disse a ex-ministra. No Distrito Federal, Michelle também apoia um parente, Eduardo Torres (PL), que concorre a deputado distrital. Ele é irmão, por parte de mãe, de Danilo Torres, irmão consanguíneo da primeira-dama, que também disputou o cargo em 2018, mas não foi eleito. Outra escolha de Michelle é Amália Barros (PL), que disputará vaga de deputada federal pelo Mato Grosso.
Ela é cega de um olho e se aproximou da primeira-dama ao defender uma lei que classifica a visão monocular como deficiência. Michelle também declarou apoio ao ex-secretário de Pesca Jorge Seif (PL), que concorre ao Senado por Santa Catarina. Seif é elogiado com frequência por Bolsonaro, e também se aproximou da primeira-dama. Em São Paulo, Michelle apoia os dois principais candidatos de Bolsonaro: Tarcísio Gomes de Freitas ( Republicanos ), que concorre ao governo, e MarcosPontes( PL ), ao Senado. Os dois são ex-ministros. Nos últimos 30 dias, Michelle ganhou 160 mil novos seguidores no Instagram, segundo a consultoria Bites divulgada na ultima segunda-feira pela coluna de Malu Gaspar.
O número supera a soma de novos seguidores dos presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) no mesmo período, não só no Instagram, mas em outras redes também. No período, o interesse por Michelle nas buscas do Google foi 24 vezes maior do que o de Rosângela da Silva, a Janja, mulher de Lula (PT).