Título: A internet é o caminho mais seguro e eficaz
Autor: Rozane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 05/12/2005, Internacional, p. A9
A internet é o caminho mais seguro e eficaz
A perseguição aos homossexuais no mundo islâmico ''criou uma atmosfera de terror para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros'', como define a pesquisadora da Human Rights Watch, Jessica Stern. Mas a resistência tem vencido na medida em que as vozes desses grupos ultrapassam as fronteiras de seus países e rodam o mundo. Foi assim com as fotos dos dois rapazes enforcados em julho, rapidamente divulgadas. É assim com dois dos sites gays islâmicos mais visitados hoje. Um deles é ''Huriyah'', palavra árabe que quer dizer ''liberdade'', mesmo nome de uma revista que circula no Oriente Médio. O ''Huriyah'' não traz apenas temas relativos à homossexualidade de pessoas que se declaram muçulmanas, mas dezenas de artigos em inglês sobre as mais variadas formas de repressão à liberdade de expressão. Mas dá o tom da pressão exercida pela lei islâmica. No fórum onde o internauta é convidado a debates, um aviso tranqüiliza: ''É o espaço mais seguro para muçulmanos bichas e seus amigos, famílias e parceiros podem usar para interagir e/ou discutir o conteúdo de nossa revista. Ninguém vai saber onde você está''. Não há endereço para correspondência tradicional e nenhum telefone de contato. A ''Jihad Bicha'' (''Queer Jihad'') é nos mesmos moldes, mas não traz o medo nas entrelinhas. A explicação é que foi criada por alguns ativistas gays de fora do mundo árabe, entre eles, um americano de Minnesota, Faris Malik, recém-convertido ao islamismo. Pesquisador das tradicionais concepções que o sexo teve através da História, Malik, tem uma interpretação pessoal da perseguição feita aos homossexuais no mundo islâmico. - Os países islâmicos adotaram um código de moral cristão neo-platônica no qual o sexo é tabu e deve se restringir ao casamento heterossexual sob todas as circunstâncias. É o que acreditam ser uma prova de sua fortaleza moral. Sem levar em conta que esse código nunca foi levado à prática de forma consistente por qualquer sociedade no planeta - diz, em entrevista por e-mail. Para Malik, o radicalismo nos países muçulmanos é, ainda, uma importante questão política, especialmente no Irã, país que hoje está na contramão do consenso mundial ao insistir em seu programa nuclear. - A eleição de Mahmoud Ahmadinejad é muito mais um sintoma do que a causa de uma tendência. Não ao radicalismo, mas à necessidade de auto-afirmação da nação. Mas isso, no mundo islâmico, sempre traz junto o extremismo religioso. Acho que isso é resultado do isolamento ao qual o Irã tem sido submetido desde que (o presidente George) Bush descreveu o país como uma nação ''do mal''.