Título: 'Todo o Brasil está violento'
Autor: Ana Paula Verly e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2005, Rio, p. A14

''O meu drama começou às 22h40 daquele dia. Quando eu desci de casa, no Conjunto da Granja (Penha Circular), recebi um telefonema. Meu neto atendeu e disse 'vô, vamos descer que o Rogério (Mendes de Oliveira) tá queimado'. Não tenho condição de olhar o meu genro. Deus está me concedendo essa força para continuar. Não sei o que vai acontecer comigo. Diploma eu não tenho. Diploma é a minha educação: simples, mas educado. A Justiça vem daquele de lá (aponta para o alto). Aqui está difícil. Sou do interior. Vim da roça em 1965, quando só ouvia falar do Rio e resolvi passar o resto da vida aqui. Falo do Rio porque estou no Rio, mas todo o Brasil está violento. Cabe a alguém de direito fazer algo por nós, pelo pobre.

Trabalhei em um estaleiro de 1967 a 1995 e saí como assistente de engenharia, sem anel, só com esses dois braços. Hoje vejo um trabalhador passar por isso e dói. Está aqui, doído. Só em pensar que às 22h30 a minha neta estava me beijando e me abraçando. Parece que ela estava adivinhando. Lá de cima alguém devia estar avisando 'se despede do seu avô'. Isso pode acontecer na vida de qualquer um de vocês. Hoje eu estou pedindo à governadora que libere a identificação da minha netinha. O nome dela não é criança carbonizada. É Vitória Cristina Barbosa de Oliveira. Eu sou pobre mas trouxe a mãe dela como Wania Lucia Barbosa. E o meu nome é Waldir Barbosa, até Deus permitir''.

Depoimento a Ana Paula Verly