Título: Famílias cobram ação do estado
Autor: Ana Paula Verly e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2005, Rio, p. A14
Três dias depois do ataque de traficantes ao ônibus 350 (Passeio-Irajá), que deixou cinco pessoas mortas e 13 feridas, parentes das vítimas cobram assistência das autoridades públicas. Eles denunciam que não foram procurados por representantes do estado. Revoltados, alguns parentes vão brigar na Justiça por indenização. Sem amparo financeiro, os feridos que receberam alta do hospital somam os prejuízos com remédios e curativos. Os parentes das vítimas internadas preocupam-se com os custos das futuras cirurgias. Desde que foi liberada do hospital, D, de 20 anos, que sofre com queimaduras nos pés, já gastou R$ 300. O dinheiro foi usado na compra de remédios, para o pagamento de passagens ao IML, nos curativos e ainda em um corte no cabelo da jovem, queimado durante o ataque.
- Não tivemos nenhum contato do estado nem da empresa do ônibus. Não houve apoio moral ou financeiro - indigna-se um parente de D.
Segundo José Messias, 46, pai da pedagoga Viviane Eusébio, 21, internada no Hospital do Andaraí com 50% do corpo queimado, a família também não recebeu auxílio do Estado. Morador de Irajá, ele queria ajuda para pagar o transporte diário até o hospital.
- A previsão é de que ela (Viviane) fique internada 60 dias. Vou precisar de ajuda. Ela terá que fazer cirurgias e tomar remédios - preocupa-se Messias.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado Geraldo Moreira (PMDB), pretende, na próxima semana, reunir as vítimas para cobrar medidas do governo estadual. De acordo com o vice-presidente do sindicato Rio Ônibus, Otacílio Monteio, a empresa Rubanil - responsável pelo ônibus 350 - também quer processar o estado. A empresa informou que vai auxiliar as vítimas com atendimento social e psicológico. O secretário estadual de Direitos Humanos, Jorge da Silva, disse que foi criado um grupo de trabalho para identificar e localizar as vítimas. A mesma estratégia foi usada na chacina da Baixada Fluminense. Hoje, 21 dos 34 parentes e vítimas recebem pensão de três salários mínimos. As vítimas podem pedir ajuda pelo telefone 3399-9118.
Pela manhã, Waldir Barbosa, 63, fez um apelo emocionado durante o enterro da filha Wania, 37, e da neta Vitória, de 13 meses, no Cemitério de Irajá. Elas morreram carbonizadas no ônibus. Waldir pedia que as autoridades realizassem o exame de DNA da neta. Ele não se conforma em enterrar a menina com a identificação de ''criança carbonizada'' no atestado de óbito. Emocionadas, cerca de 50 pessoas rezaram em torno dos caixões. Mãe e filha foram sepultadas juntas, sem velório. Rogério de Oliveira, 27 anos, que teve 40% do corpo queimado, não acompanhou o cortejo da mulher e da filha. Depois do enterro, o governador em exercício Luiz Paulo Conde determinou que o exame de DNA de Vitória seja concluído em até 30 dias.
A Corregedoria da PM vai apurar a informação repassada ao Disque Denúncia de que dois sargentos do 16º BPM (Olaria) teriam prendido e liberado, após extorsão, o traficante conhecido como Lorde, apontado como um dos participantes do ataque ao ônibus. Quatro dos seis traficantes envolvidos no crime e identificados pela polícia foram mortos na quinta-feira.