O Globo, n. 32523, 23/08/2022. Política, p. 8
Venezuela: Lula agora defende alternância de poder
Sérgio Roxo
Em contraste com declarações passadas, tanto dele quanto do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a alternância de poder na Venezuela e que aquela nação seja “a mais democrática possível”. As declarações foram dadas durante entrevista a jornalistas estrangeiros, em São Paulo.
Por anos, Lula e o PT tiveram proximidade com o ex-Hugo Chavéz e depois com Nicolás Maduro. Em 2016, por exemplo, durante eleições no país vizinho, o PT soltou uma nota elogiosa ao processo, afirmando que “ocorreu em respeito às regras democráticas”.
Em 2019, quando Juan Guaidó interino do país, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu que Maduro havia sido eleito conforme “regras constitucionais”. Já em 2020, quando o então secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, fez uma visita a Roraima, Lula afirmou que se tratava de mera provocação à Venezuela”. “Os EUA precisam desistir dessa mania de querer ser o xerife do mundo.”
Ontem, o ex-presidente mudou o tom:
— Aprendi a respeitar a autodeterminação dos povos, não posso ficar me metendo. Sempre desejando que a Venezuela seja a mais democrática possível, defendo a alternância de poder não apenas para mim, mas para todos os países.
Lula disse que o Brasil vai tratar a Venezuela “com respeito” em eventual novo governo petista. Ele elogiou o movimento do presidente americano, Joe Biden, de reaproximação com o país latino-americano.
O petista criticou, porém, o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino por parte da União Europeia após as eleições de 2018 na Venezuela. Lula chamou Guaidó de “impostor”. O reconhecimento foi revisto em 2021.
A relação com a Venezuela virou uma saia justa para Lula e o PT, que têm sido acusados de leniência com regimes autoritários de esquerda, sem condenar violações a direitos humanos em países ideologicamente próximos.
Durante a entrevista de ontem, Lula também afirmou que o Brasil vive uma situação “um pouco anômala em se tratando de um país democrático” por causa da divulgação de fake news.
— Nós estamos a 41 dias das eleições e eu penso que todos vocês, que acompanham o processo político eleitoral, sabem que estamos vivendo uma situação um pouco anômala em se tratando de um país democrático porque há muita fake news espalhada diariamente na tentativa de conturbar as boas intenções e a cabeça de milhões de brasileiros — afirmou.
Em outro momento, Lula voltou a dizer que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma “cópia mal-feita de Trump”, em referência ao ex-presidente dos EUA Donald Trump. O petista também afirmou que o Brasil está hoje em condições piores do que as de 2003, quando ele chegou ao poder pela primeira vez, e acusou Bolsonaro de não respeitar instituições.
Ação contra Bolsonaro
No domingo, o PT apresentou pedido ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que Bolsonaro seja impedido de fazer campanha durante o expediente. Em documento protocolado junto à Corte, os advogados do partido argumentam que o presidente usa a máquina pública para se reeleger e comete ato de improbidade administrativa para ganhar votos.
A postura, ainda de acordo com os advogados, pode configurar abuso de poder econômico. Na denúncia, os advogados do PT citam os atos do primeiro dia de campanha eleitoral, no dia 16, quando Bolsonaro foi a Juiz de Fora (MG) para participar de comício pela manhã.