Título: PIB ''do tamanho de nossas pernas''
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2005, Economia & Negócios, p. A19

Dizendo-se ''chateado'' com a retração de 1,2% da atividade econômica no terceiro trimestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva substituiu ontem a repetida promessa de um ''espetáculo do crescimento'' pelo desempenho econômico compatível com o ''tamanho das pernas'' do Brasil. De Londres, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, confirmou o clima de ressaca pós-queda do Produto Interno Bruto, e disse que o crescimento previsto pelo governo para este ano (3,4%) deverá ser revisto para baixo. Ao discursar a investidores estrangeiros em São Paulo, Lula pediu que os empresários não se preocupem com a retração do PIB. Acenou com crescimento sólido em 2006 e, ''se Deus quiser'', nos anos seguintes.

Ainda abalado com a má notícia, Lula alegou que ''em economia não existe mágica, em economia existe seriedade, existe transparência, existem passos a serem dados, do tamanho da nossa perna''. E rechaçou comparações:

- Não adianta ficar olhando para a China, não adianta ficar olhando para os Estados Unidos, não adianta ficar olhando para alguém que cresceu mais ou menos do que nós. Nós temos que olhar para nossa indústria, para a nossa cultura, para a nossa política, para as nossas possibilidades, e aí sim, juntos, nós poderemos encontrar o momento certo de tomar as medidas certas para que o Brasil passe para o rol dos países ricos - afirmou Lula. No fim de agosto, o próprio presidente tinha dito que a economia poderia crescer até 5% neste ano.

- Não se preocupem com o índice do terceiro trimestre, porque embora tenha me deixado chateado, porque sempre se espera número positivo, os indicadores demonstram que a economia vai crescer de forma sólida em 2006 - disse.

Lula reafirmou que a eleição não contaminará a política econômica: ''Faço questão de reiterar isso na frente dos empresários e trabalhadores''.

Lula não é o único ''chateado'' com o desempenho da economia este ano. Ontem, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, desabafou:

- Graças a Deus, 2005 está acabando - afirmou, durante o mesmo seminário do qual participou Lula. - Foi o pior dos mundos. Tivemos uma conjunção de fatores dramáticos. Aumentou o endividamento, a renda caiu e houve uma redução de área plantada de 5%.

Apesar do fraco desempenho no trimestre, Palocci reiterou que o Brasil não vai mudar a política monetária.

- Nós não vamos alterar a política monetária porque ela já mostrou duas vezes durante os últimos três anos que é muito eficiente - disse Palocci, referindo-se às ameaças inflacionárias de 2002 e de 2004.

Mas o ministro reconheceu que a política tem efeitos colaterais e que ''o debate sobre a intensidade das políticas é legítimo''.

Já para o presidente do BC, Henrique Meirelles, o responsável pela contenção do crescimento é outro.

- O grande limitador do crescimento têm sido crises periódicas da economia brasileira. Como temos diminuído as probabilidades (de ocorrerem) novas crises, isso, em si, já aumenta as possibilidades de crescimento - argumentou.