Correio Braziliense, n. 21863, 25/01/2023. Política, p. 3

Contra “tentações autoritárias”

Ingrid Soares


No retorno do Brasil à Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) — após três anos de ausência —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma defesa veemente da democracia, na 7ª edição da cúpula, composta por outros 32 países.  

Lula citou os atos golpistas e terroristas ocorridos no último dia 8, na Praça dos Três Poderes, e agradeceu o apoio recebido de outras nações. Ele repudiou o extremismo e a violência política.

“Quero aproveitar para agradecer a todos e a cada um de vocês que se perfilaram ao lado do Brasil e das instituições brasileiras, ao longo destes últimos dias, em repúdio aos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília”, disse. “É importante ressaltar que somos uma região pacífica, que repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política”, apontou, durante o encontro, realizado em Buenos Aires, na Argentina.

Ele reforçou o respeito à cor e ao gênero e aos povos originários. Citou “tentações autoritárias” que continuam a desafiar a democracia na América Latina. “Nada deve nos separar, já que tudo nos aproxima: nosso passado colonial; a presença intolerável da escravidão, que marcou nossas sociedades profundamente desiguais; a tentações autoritárias que até hoje desafiam a nossa democracia”, enumerou.

Na abertura do evento, o presidente argentino, Alberto Fernández, destacou que a “direita reacionária e fascista” ameaça a democracia. “Temos de trabalhar para garantir e fortalecer a institucionalidade da nossa região. A democracia está definitivamente em risco. Depois da pandemia, estamos vendo como setores da extrema direita se levantaram e ameaçam cada um dos nossos povos”, enfatizou.

Fascista

Fernández destacou que não se pode permitir “que essa direita reacionária e fascista coloque em risco a institucionalidade dos povos”, numa referência à manifestação golpista no Brasil e à tentativa de assassinato da vice-presidente argentina Cristina Kirchner, em 2022. A pedido dele, o chefe do Executivo brasileiro foi ovacionado pela volta do país à Celac.

Lula ressaltou a importância da integração entre os países regionais e fez uma ressalva: “Isso não significa que devemos nos fechar ao mundo. Salienta apenas que essa integração será feita em melhores termos, se estivermos bem integrados em nossa região. Temos de unir forças em prol de melhor infraestrutura física e digital, da criação de cadeias de valor entre nossas indústrias e de mais investimentos em pesquisa e inovação em nossa região”.

Na seara do meio ambiente, o petista citou participação na COP-27, ocorrida no Egito, e reiterou que, em breve, convocará a Cúpula dos Países Amazônicos. Observou ainda que a cooperação de fora da região da América do Sul e Latina em relação ao meio ambiente “é muito bem-vinda”, mas que “são os países que fazem parte desses biomas que devem liderar, de maneira soberana, as iniciativas para cuidar da Amazônia”.

Citou apoio da Celac à candidatura de Belém para sediar a COP30, em 2025, completando que o Brasil tem capacidade especial para participar de forma vantajosa da transição energética global.