Título: Retração traz de volta discussão de plano B
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/12/2005, ECONOMIA & NEGÓCIOS, p. A18
Desde a posse do presidente Lula, recém-convertido à austeridade fiscal e ao conservadorismo na condução da política econômica, ventila-se em Brasília que algum tipo de plano B está em gestação. A ruptura com o combativo discurso anterior foi tão evidente que a impressão de analistas de mercado era exatamente essa: toda essa ortodoxia seria passageira, apenas uma estratégia para acalmar os investidores, antes de implementar medidas mais desenvolvimentistas. Isso explicaria até a alta de juros na estréia da administração petista, que pegou muito militante histórico no contrapé. Três anos depois, o mercado observa, complacente, as rusgas entre membros do primeiro escalão, especialmente os ministros Antonio Palocci e DilmaRousseff. Gray Newman, do Morgan Stanley, assinala o clima de déjà vu do debate econômico. ¿Uma troca no gabinete é sempre possível, bem como uma mudança da orientação jamais deve ser descartada. Mas, diferentemente das discussões intermináveis de 2003, 2004 e mesmo no início deste ano sobre se o governo deveria ou não abandonar sua política (de austeridade), o atual debate precisa ser inserido no contexto do histórico recente do país. Um histórico que permitiu ao Brasil reduzir seu risco país a níveis sem precedentes e captar recursos em sua própria moeda, a taxas mais baixas e prazos mais longos¿, lembra o analista. Quando Dilma diz que gasto corrente ¿é vida¿ e ataca as tesouradas de Palocci no orçamento para investimentos públicos, não fica claro para ninguém qual é a alternativa. Com superávit primário recorde e tudo, o governo ainda gasta muito. E mal. O problema é o estrago que pode ser ocasionado por números negativos, como os do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre, divulgados pelo IBGE esta semana. Com a retração econômica às portas de 2006, resta saber se o presidente Lula vai dar mais ouvidos ao candidato Lula, abrindo as torneiras do Orçamento da União. Estabilização econômica já foi bandeira eleitoral tucana. O que pode dar votos ao petista é crescimento ¿ e não uma expansão pífia, abaixo de 3%, e ainda por cima propiciada pela deprimida base de comparação.