Correio Braziliense, n. 21862, 24/01/2023. Política, p. 2

Moeda comum será facilitadora de negócios

Rafaela Gonçalves


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, ontem, que o plano para criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina não tem relação alguma com a ideia do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. Conforme enfatizou, não se trata de um valor de conversão para substituir o real ou o peso, mas, sim, uma unidade financeira para facilitar transações comerciais, sem excessiva influência do dólar.

“Se trata de avançarmos nos instrumentos previstos e que não funcionaram a contento. Recebemos dos nossos presidentes uma incumbência: não adotar — e deixo isso muito claro — uma ideia que era do governo anterior, que não foi levada a cabo, da moeda única”, explicou Haddad.

Sobre isso, pouco antes os presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández deixaram claro que se tratava de um projeto de longo prazo e que ainda precisaria ser debatido entre os países e muito negociado com os setores produtivos.

“Não sabemos como poderia funcionar uma moeda comum entre Argentina e Brasil, mas sabemos o que acontece com as economias nacionais tendo necessidade de funcionar com moedas estrangeiras. E sabemos como isso é nocivo”, destacou Fernández.

Integração radical

Para Haddad, a integração de países da América Latina deveria ser “um pouco mais radical”. Ele classificou o atual momento como uma “oportunidade que está se abrindo”, devido a um “alinhamento de propósitos com presidentes progressistas”. “Eu vejo como uma obrigação histórica recolocar o debate de uma integração que, do meu ponto de vista, deveria ser um pouco mais radical do que foi tentado até aqui. O Mercosul foi uma grande iniciativa, mas penso que chegou o momento de sermos mais ambiciosos nas nossas pretensões regionais”, disse.

O pronunciamento ocorreu logo após o encontro com o ministro da Economia argentino, Sergio Massa, e uma tarde de diálogos com empresários e autoridades argentinas. Haddad lembrou que nos últimos anos, a corrente de comércio entre os dois países caiu 40%, sendo a Argentina o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Ele afirmou que a nova linha de crédito destinada aos importadores argentinos que comprarem produtos brasileiros, anunciada ontem, tem como objetivo aumentar as exportações do Brasil para o país vizinho.

Haddad assegurou ainda que não haverá risco para os bancos brasileiros que oferecerem a nova linha porque a operação será lastreada no Fundo de Garantia à Exportação (FGE) — que oferece garantias reais, como commodities. “Nem o banco argentino que estiver financiando o importador, nem o Banco do Brasil que esteja garantindo exportador, estão envolvidos no risco”, frisou. (Com MP)