Título: Chegou a hora de o BC mostrar sua força
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/12/2005, ECONOMIA & NEGÓCIOS, p. A20

Recuo do PIB causa enxurrada de críticas à dosagem de juros

Críticas ao modelo adotado à parte, a retração da atividade econômica no terceiro trimestre provocou uma onda de queixas à ''dosagem'', como sugeriu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, do remédio juros no combate à inflação. Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a economia andou de marcha a ré no trimestre e caiu 1,2%. Para o economista-chefe da Fator Corretora, Wladimir Caramashi, a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, será a oportunidade de o Banco Central trazer os juros para um patamar mais próximo do equilíbrio. - É o momento certo para o Banco Central começar a acelerar a redução dos juros. Diria que hoje há 60% de chances de o BC cortar mais do que 0,50 ponto percentual e 40% de manter o ritmo - avalia Caramaschi. E a informação sobre a queda na atividade econômica no trimestre foi fundamental para determinar essa provável mudança de rumos. - Não foi um dado isolado. Vamos fechar o ano com um crescimento de 2,5% ou menos - afirma o economista, que, no entanto, não avalia que o BC foi além da conta. - Se foi exagerado ou não, o fato é que, nos últimos dois anos, a autoridade monetária tem acumulado mais acertos do que erros. Segundo o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a política de juros altos do Banco Central passou mesmo do ponto. - É preciso reconhecer que houve excesso, um erro de calibragem, e há espaço para uma redução mais forte dos juros agora para que o país cresça no ano que vem. Pois 2005 está feito - disse o empresário, com certo ar de desapontamento. O mercado apressa-se em revisar as previsões para o crescimento no ano, movimento que deverá ser acompanhado pelo próprio governo, conforme adiantou o ministro da Fazenda na última sexta-feira. De fato, a expansão da economia ficará no meio do caminho em 2005. A maioria dos analistas reviu para perto de 2,5% a expansão da economia este ano. Quer queira, quer não queira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é mais baixo do que a maioria dos emergentes, como Chile (5,2%) e China (9%). Nos últimos 12 meses encerrados em setembro, o Brasil marca uma expansão de 3,1%, ainda influenciado pelo bom resultado do último período de 2004. - Tem que haver um olhar também para o crescimento - sugere Monteiro Neto. - O longo aperto monetário e o câmbio sobrevalorizado fizeram muitos setores perderem fôlego e, para completar, a expansão do crédito para consumo deu sinais de que se esgotou um pouco. Já para o economista-chefe do banco francês BNP Paribas, Alexandre Lintz, efeitos de mercado explicam o resultado no trimestre - e não os juros. - No período, houve um acúmulo de estoques, o que mostra que não houve mudança na direção da atividade econômica - pondera. Para o economista, o BC não deve e não vai aumentar o corte na taxa de juros na próxima reunião. - A inflação corrente está acima da meta (em 12 meses) e as expectativas para 2006 estão em linha com o objetivo do BC. Se cortar demais agora pode ter que interromper o movimento no futuro - afirma. Porém admite que o trabalho da autoridade monetária será colocado à prova. - Mas o BC vai ter que agüentar firme a pressão que vem pela frente.