Correio Braziliense, n. 21862, 24/01/2023. Política, p. 4

Intervenção não será prorrogada 

Arthur de Souza


Em uma reunião entre deputados distritais da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e o interventor federal na segurança pública da capital do país, Ricardo Cappelli, houve uma discussão sobre o futuro da cidade. Um dos presentes no encontro, Gabriel Magno (PT) disse que o setor volta para o controle do governo do DF em 31 de janeiro. "Ele (Cappelli) foi claro ao dizer que a intervenção não será prorrogada e a governadora vai indicar o nome que deve assumir a Secretaria de Segurança Pública ainda nesta semana", ressaltou. O distrital afirmou que a única ponderação feita por parte do governo federal é de que o indicado seja alguém que possa trabalhar em conjunto com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Gabriel Magno disse que o governo federal está discutindo, mas que não há nada concreto, sobre a criação de uma guarda nacional, que teria uma atuação restrita. Ao Correio, o deputado Hermeto (MDB) ressaltou que é contra essa possibilidade. "Nos 30 anos em que estive dentro da polícia, sempre demos conta de tudo. Passamos por dois impeachments, inclusive", lembrou. "A Polícia Militar é de Estado, podemos até ter as nossas preferências políticas, mas no momento que vestimos a farda, passamos a trabalhar imparcialmente", acrescentou Hermeto.
Sem federalização
A reunião foi convocada pela deputada Doutora Jane (Agir), que comanda a Comissão de Segurança da Casa. Após o encontro, ela falou com a imprensa e destacou que Cappelli teve uma fala muito forte, ao afirmar que, em 8 de janeiro, os policiais foram encaminhados para uma emboscada. "Eles não estavam devidamente orientados e acabaram sendo vítimas", comentou. "Foram 44 policiais militares lesionados naquele evento, então, poderia ter sido pior do que o que foi, em termos de preservação da vida humana", disse a delegada.
Em relação ao fim da intervenção, Doutora Jane que isso mostra que as "coisas foram pacificadas" no DF. "A partir daí, teremos a retomada (da segurança pública), esperando tranquilidade e que a confiança da população, em relação às polícias não se abale", destacou. Ela também disse que, durante o encontro, foi discutida a possibilidade da federalização do setor e da retirada do Fundo Constitucional. "Ele (Cappelli) deixou bem claro que nada disso está em debate, o que nos dá muita tranquilidade. O fundo é muito importante para as polícias e para o DF", apontou. "Se outras medidas forem adotadas, para que o problema não volte a acontecer, será importante, mas que isso não fira o Fundo Constitucional e não macule a autonomia em relação às polícias", observou a distrital.
Participaram da reunião com a CLDF, além da Doutora Jane, Gabriel Magno e Hermeto, os deputados Dayse Amarílio (PSB), Eduardo Pedrosa (União Brasil), Paula Belmonte (Cidadania), Ricardo Vale (PT) e Roosevelt Vilela (PL) — por meio de um assessor.
CPI
Os distritais também comentaram sobre a comissão parlamentar de inquérito (CPI) da CLDF, que vai investigar os atos terroristas ocorridos no DF. Segundo Doutora Jane, as apurações vão indicar quem são os culpados. "É muito importante individualizar as condutas das pessoas e responsabilizar quem, efetivamente, teve alguma responsabilidade, agiu de má fé ou provocou, pelo menos por omissão, aqueles fatos", afirmou.
Enquanto isso, Gabriel Magno destacou que as informações colhidas durante a reunião vão ajudar a CPI que está prestes a ser instaurada na Câmara. "Temos que identificar os responsáveis. Não só os que estiveram presentes naqueles dias, mas quem financiou, deu ordem ou quem, porventura, foi responsável por uma omissão ou conivência", lembrou o petista. Já Hermeto, disse que os distritais precisam ser o mais imparciais possível, para chegar aos verdadeiros culpados pelo vandalismo.