Correio Braziliense, n. 21864, 26/01/2023. Política, p. 2

Vídeos mostram recuo da PM nos atos golpistas

Talita de Souza


O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou, ontem, imagens captadas pelas câmeras de segurança da Corte, na Praça dos Três Poderes, que mostram a ação de bolsonaristas extremistas que depredaram prédios públicos federais em 8 de janeiro. Nos registros, é possível perceber um recuo da Tropa de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) ante o avanço dos golpistas.

O bloqueio foi montado a 500 metros do STF e era composto por seis viaturas da tropa de choque, um ônibus, um blindado modelo centurion (caminhão com jato de água para conter grandes multidões) e dezenas de policiais. Os vídeos mostram que nenhum dos agentes posicionados na barreira chegou a disparar armas não letais com o objetivo de dispersar a multidão bolsonarista.

O objetivo do bloqueio era evitar que os radicais descessem à via de acesso à Praça dos Três Poderes e, por consequência, ao Supremo. A parte que os veículos policiais não cobriam era fechada por grades.

Naquele momento, os prédios da Câmara e do Senado já haviam sido tomados pelos golpistas, assim como o topo das estruturas onde ficam as cúpulas das Casas. Nos 30 minutos em que o bloqueio aparece nas imagens, nenhum bolsonarista conseguiu furar a proteção policial.

Outra filmagem mostra que os dois veículos de grande porte se movem do bloqueio. Um deles, inclusive, passa por cima da grade que impedia o acesso dos extremistas. Com o caminho livre, os radicais se ajoelham e, em seguida, começam a avançar.

Os extremistas passam pelos veículos policiais e descem a via rumo ao Supremo. Minutos depois, o prédio da Corte já estava sendo depredado pelos golpistas.

Para a equipe técnica da Corte, os vídeos são fortes indicações de que o ato da PM teria sido feito a partir de alguma orientação superior. O bloqueio próximo ao Congresso exercia a função de contenção e protegia os prédios dos Três Poderes.

Pouco mais de 20 minutos após o Choque desfazer a barreira, a Polícia Judicial reconheceu, em conversas por rádio, que o edifício-sede foi tomado. As imagens do STF foram encaminhadas à Polícia Federal.

A atuação da PMDF já havia sido classificada como falha e omissa pelo Supremo logo após os atos golpistas, o que resultou na exoneração do então comandante da corporação, Flavio Augusto Vieira, em 9 de janeiro, decidida pelo interventor federal na segurança pública do DF, Ricardo Cappelli. Um dia depois, em 10 de janeiro, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a prisão de Vieira.

Em depoimento, o militar afirmou que recebeu informações da inteligência da PM que os atos seriam pacíficos e que cumpriu o plano de atuação estabelecido pelas forças de segurança do DF e do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Em frente ao STF, policiais abandonam formação e enfraquecem bloqueio. Outro vídeo gravado pelas câmeras do Supremo mostram o momento em que grande parte dos golpistas já desceram a via de acesso ao órgão. No local, há cerca de 26 policiais. 22 estavam posicionados em uma espécie de barreira humana.

Logo depois, no entanto, os policiais deixam a posição de guarda e chegam a correr do local. Permanecem, então, apenas 11 agentes na barreira contra centenas de extremistas. (Com Agência Estado)

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