Título: "Economia crescerá mais em 2006"
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 04/12/2005, Brasília, p. D5

Entrevista: Antonio Rocha

Nem a queda das exportações no Distrito Federal nos últimos meses ou a retração do PIB em 1,2% no terceiro trimestre de 2005 acabam com o otimismo do presidente da Federação das Índústrias do Distrito Federal (Fibra). Com 2006 apontando no horizonte, Antônio Rocha faz uma análise da economia do DF em 2005 e seus reflexos nas indústrias. Prevê bons ventos para o ano que vem. Rocha não é de divagar, atém sua análise aos números, guardados na ponta da língua. Diplomático, não critica, propõe caminhos. Pede, por exemplo, que o governo local aumente o teto de faturamento das pequenas empresas. ¿O simples candango deveria acompanhar o modelo da MP do Bem, o que aqueceria a economia local ¿. A alta carga tributária é apontada como empecilho ao crescimento. ¿Se os impostos diminuíssem, mais gente sairia da informalidade e a arrecadação aumentaria¿ sugere. Não é a toa que Rocha gosta tanto de citar números. Há mais de três anos à frente da Fibra, ele se orgulha de ter estruturado o setor de levantamento de indicadores econômicos da instituição. ¿Com esses dados, podemos acompanhar o desenvolvimento da indústria no DF¿. Outra feito de sua gestão foi o Legisdata, que informa, quase em tempo real, o setor produtivo sobre projetos que tramitam na Câmara Legislativa. Com o fim do mandato no ano que vem, Rocha deve se candidatar à presidência da organização novamente. ¿Os sindicatos pediram, por isso eu me comprometi¿ afirma.

¿ Como o senhor avalia o ano de 2005 para as indústrias do Distrito Federal? ¿ Os últimos dados que foram apurados por nossa equipe econômica são relativos ao terceiro trimestre do ano. Os indicadores apontam uma recuperação no emprego da indústria do DF, com 4,4% a mais de empregados do que no trimestre anterior. A capacidade instalada das indústrias cresceu 1,8%, passando de 63% para 64,8%. No entanto, é até contraditório, mas o faturamento caiu neste trimestre, o que, acreditamos foi decorrente de alguns contratos que terminaram, já que o fluxo de faturamento é muito instável. Mas o principal é que o aumento do emprego e do uso da capacidade sinaliza uma aposta de uma produção maior para o último trimestre do ano. Geralmente dezembro é um dos meses que tem o melhor desempenho, já que tem os recursos do 13º salário e aumento de consumo, que leva a um resultado melhor no último semestre. No comparativo com 2004, o resultado é positivo, está projetado um faturamento com crescimento em torno de 12% a 14%, abaixo dos 16% esperados no começo do ano. O crescimento do emprego deve ficar em 0,89%. Esse é um resultado principalmente do melhor desempenho nos seis primeiros meses, no segundo semestre houve uma queda no faturamento, por isso o crescimento é menor do que o projetado.

As exportações no DF bateram recorde nesse ano, apesar do valor do dólar ter caído. O que causou esse aumento? ¿ As exportações vem crescendo desde 2003 no DF. Naquele ano, o faturamento dos produtos exportados ficou em US$ 14 milhões, subindo para US$ 28 milhões em 2004. De janeiro a setembro, já atingimos a faixa de US$ 47 milhões. Mesmo com uma queda de 4,49% em setembro, o dado é positivo, e nosso objetivo, que seria chegar em US$ 50 milhões, será ultrapassado. Isso acontece por causa de um trabalho conjunto do governo federal e do DF, do Sebrae e da própria Fibra. Temos o Centro Internacional de Negócios, que promove cursos de qualificação e dá informações sobre o mercado externo. Cerca de 1.500 empresários já passaram por esses cursos. Hoje, tanto empresas grandes como pequenas exportam no DF. O setor de vestuário, por exemplo, formou cooperativas e exporta para Estados Unidos, Europa e Emirados Árabes.

As indústrias já começaram a sentir os efeitos da MP do Bem? Até onde o setor será beneficiado pela medida? ¿ O ponto mais importante da MP 252 no Distrito Federal foi o aumento do teto de faturamento das micro e pequenas empresas (que passou de R$ 120 mil para R$ 240 mil e R$ 1,2 milhões para R$ 2,4 milhões respectivamente). O teto era muito baixo, por isso as empresas acabavam vendendo menos do que sua capacidade para não ultrapassar o limite de faturamento. As empresas poderão crescer mais a partir de agora. Mas, é necessário que o Simples Candango acompanhe esse mesmo percentual de aumento federal. O Fórum do Setor Produtivo já encaminhou uma solicitação para a Secretaria de Fazenda pedindo a revisão dos tetos e, esperamos, eles devem analisar isso logo.

¿ Grande parte do setor produtivo reclama da taxa de juros praticada pelo Banco Central. Até onde o índice atrapalha a indústria do Distrito Federal? ¿ O que nós verificamos é que já existe o controle da inflação, portanto não tem motivos para que a taxa Selic não caia. Nas duas últimas reuniões do Copom, o banco sinalizou que a tendência da taxa é cair. Se a taxa de juros nossa fosse 17% ao ano, seria razoável pelo modelo do país, mas a realidade do mercado é que o crédito, principalmente para a micro e pequena empresa, não sai por menos de 80% ao ano, o que é extremamente alto. A Selic representa os juros da macroeconomia, orientando o restante das taxas. Os juros que chegam ao consumidor e as empresas é muito maior. Outro problema é a carga tributária, que hoje, no Brasil, é uma das maiores do mundo, passando dos 40%. As empresas não conseguem absorver os impostos e o produto acaba ficando mais caro para o consumidor e sendo menos consumido. Se a carga tributária fosse menor iria estimular mais ainda o consumo. Se o imposto fosse mais barato no Brasil, iria corrigir muito a questão da informalidade, e a arrecadação do governo iria acabar aumentando.

Mais de 10 mil novas empresas foram abertas no DF em 2005. Como o governo deveria agir para atrair cada vez mais investidores? ¿ O DF está localizado em uma região de grande produção de soja, milho e carne. O perfil da indústria no DF deveria ser de empresas que processam e agregam valores a esse tipo de produto, para atender, não só o mercado do Distrito Federal, que é um mercado de alto nível consumidor, bem como outras regiões. Um acerto do governo foi o Programa Pró-DF, que dá incentivos fiscais, creditícios e apoio na aquisição de áreas. É um programa competitivo em relação ao de outros estados, mas falta uma melhor divulgação, ir atrás das empresas, mostrar que temos perfil e condições de recebê-las, tanto as brasileiras como as do exterior.

Quais as previsões para a indústria do DF para 2006? ¿ Sou sempre um otimista e acredito que 2006 deve ser um pouco melhor do que o de 2005. Apesar de ser um ano eleitoral, há uma sinalização na queda da taxa de juros que deve movimentar alguns setores da economia. Esperamos que o emprego cresça 2,5%, o faturamento, 16% e o uso da capacidade instalada chegue aos 67%.