Título: Allawi é apedrejado em campanha
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/12/2005, Internacional, p. A7

A rejeição ao Ocidente no Iraque cresce na mesma proporção que a instabilidade política, a menos de duas semanas das eleições parlamentares. O último sinal da tensão foi o ataque ao ex-primeiro-ministro iraquiano, Iyad Allawi, apedrejado dentro de uma mesquita xiita na cidade santa de Najaf. O político diz que foi vítima de uma tentativa de assassinato.

A campanha política não se centralizou na ocupação americana, mas uma pesquisa feita pela agência Reuters descobriu que muitos eleitores exigem que as tropas estrangeiras deixem o país. Em Bagdá, Kirkuk, Basra, Hilla e Najaf, a maioria das pessoas acha que a retirada das tropas deve ser a prioridade para 2006. Os eleitores escolheram entre cinco opções como prioridade para o próximo governo: retirada das tropas estrangeiras; segurança geral; empregos; serviços de água e energia elétrica e direitos humanos. O segundo maior desejo foi segurança.

Allawi, integrante do partido Acordo Nacional Iraquiano (ANI) e aliado dos Estados Unidos, foi atacado por uma multidão dentro do Mausoléu do Imã Ali, em Najaf. Ele foi agredido com pedras e sapatos Ele visitava a cidade na campanha para as eleições de 15 de dezembro.

Os guarda-costas atiraram para o alto para dispersar a multidão. Allawi, um ex-membro do alto escalão do partido do presidente deposto Saddam Hussein, Baath, se separou do movimento árabe nacionalista indo para o exílio em 1971. Após o susto, o político disse que foi alvo de uma tentativa de assassinato quando 50 ou 60 pessoas o cercou enquanto rezava no Mausoléu do Imã Ali com colegas candidatos do seu partido.

- Pareceu uma tentativa de assassinato. Eles queriam assassinar todos os integrantes da delegação - afirmou.

De acordo com o político, entre 60 e 70 homens, vestidos de preto com pistolas e facas, partiram em direção ao seu grupo. Um dos agressores teria feito mira no ex-premier, mas largou a arma. Allawi não responsabilizou um grupo específico, mas jornalistas presentes disseram que os atacantes pertenciam à milícia do clérigo xiita Moqtada Al Sadr.

Não há um relatório independente do incidente e não está claro como o grupo de Allawi conseguiu escapar sem ferimentos graves. A polícia declarou apenas dois feridos. O político exige que os responsáveis sejam levados à Justiça.

- Nós fazíamos uma visita à cidade santa de Najaf para encontrar alguns líderes religiosos. Acreditamos que eles sejam um grupo de fanáticos. Mas o que aconteceu só nos impulsionará a combater ainda mais os grupos de foras-da-lei e levá-los aos tribunais competentes. Temos de limpar os locais santos destas pessoas - completou.

Desde o seu retorno ao Iraque após a queda de Saddam Hussein em abril de 2003, Allawi se apresenta como um líder xiita secular capaz de manter a coexistência entre as diferentes linhas religiosas do país.

O político também é um forte oponente da chamada ''rebaathificação'' após a limpeza das forças de segurança, instituições acadêmicas e ministérios de qualquer pessoa associada com o antigo partido de Hussein.

O dirigente xiita cancelou uma entrevista coletiva logo após o ataque e retornou para Bagdá, segundo o ANI.

''O que aconteceu faz parte de uma anormal campanha na qual o ANI e seus seguidores são alvos'', frisou em Najaf o partido de Allawi.