Título: Inferno astral financeiro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 05/12/2005, Opinião, p. A10
Não bastasse estar no centro motivador da mais séria crise política do país desde o impeachment de Fernando Collor de Mello, o PT atravessa um inferno astral financeiro de rara proporção. O assombro petista, portanto, não é hoje somente o esfacelamento moral. Ou a cassação do mandato do deputado José Dirceu, o ex-todo-poderoso ministro do governo Lula - a primeira de um militante graduado da esquerda brasileira em tempos democráticos. Ou ainda as incertezas programáticas que conduzem petistas a um confronto interno suficientemente capaz de prejudicar a reeleição do presidente Lula.
A paralisação dos funcionários do partido e a devassa na Receita Federal sobre as contas do partido, informadas na semana passada, são dois exemplos especialmente esclarecedores de uma crise que, aos olhos de seus integrantes, parece interminável.
Poucos poderiam imaginar semelhante pesadelo em 25 anos de existência do partido. O ''Partido dos Trabalhadores em greve'', como bem definiu manchete do Jornal do Brasil, constitui o arquétipo da ironia. O partido que sempre apoiou greves no serviço público e no setor privado e condenava com veemência as empresas que não pagavam seus trabalhadores é o mesmo que vê os funcionários cruzarem os braços devido ao atraso dos salários.
Atascado numa dívida de R$ 53 milhões (aos quais se somam os R$ 55 milhões do caixa dois de Marcos Valério, em despesas ''não contabilizadas'' pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares), o PT ainda fracassou na tentativa de emplacar campanha nacional de arrecadação de recursos.
Desde o desembarque no poder, esta tem sido a sina do partido: provar dos venenos destilados no passado contra adversários. Eis a incógnita a ser respondida pelo partido: como sobreviver a tais perturbações.