O Globo, n. 32525, 25/08/2022. Política, p. 12

Col­lor ‘aban­dona’ Senado e aposta em bol­so­na­ri­za­ção



Oito anos depois de ter se reelegido ao Senado no palanque da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, o senador Fernando Collor (PTB) aposta em uma guinada bolsonarista para seguir com mandato. Em vez de tentar nova reeleição, Collor optou por entrar na disputa para o governo estadual, e tem alardeado sua proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (PL) na campanha.

Segundo lideranças políticas de Alagoas, o movimento de Collor de trocar a corrida ao Senado pela do governo causou surpresa, mas também se enquadra no histórico de alianças maleáveis e guinadas de última hora do ex-presidente.

Em 2010, aliado à época do senador Renan Calheiros (MDB), Collor dividiu o palanque de Dilma no estado com uma candidatura ao governo contra Ronaldo Lessa (PDT), seu adversário de longa data — e a quem acabou apoiando após ficar fora do segundo turno.

Em 2018, chegou a lançarse novamente candidato ao governo, mas se retirou da disputa com a campanha já em andamento. Na ocasião, apoiou dois candidatos ao Senado que enfrentavam Renan: Biu de Lira (PP), pai do atual presidente da Câmara, Arthur Lira, e Rodrigo Cunha, hoje candidato ao governo pelo União. Cunha, porém, rechaçou o apoio de Collor e disse que o ex-presidente deveria estar “na cadeia”.

Este ano, a opção por concorrer ao governo tirou Collor de um embate direto com o ex-governador Renan Filho (MDB), tido como favorito para se eleger ao Senado. Além de apostar na vinculação a Bolsonaro, Collor busca se amparar no “recall”, especialmente no interior do estado, que impulsionou suas campanha sem 2006 e 2014. Nas duas ocasiões, Collor superou a ex-senadora Heloísa Helena, na época no PSOL, que creditou suas derrotas em parte ao apoio do PT ao ex-presidente.

Em sua nova estratégia, Collor atraiu o PL para sua aliança, oque lhe permite usara imagem de Bolsonaro, e tem feito campanha ao lado do deputado estadual Cabo Bebeto (PL), liderança bolsonarista ligada à Polícia Militar. A maioria das publicações de Collor nas redes sociais traz elogios e menções ao presidente, inclusive com postagens nas quais assistia à sabatina ao Jornal Nacional, da TV Globo, na segunda-feira.

— Bolsonaro deu as explicações necessárias, transmitiu tranquilidade e segurança, de uma candidatura que está avançando — afirmou Collor em vídeo.

O discurso vai na contramão das críticas feitas pelo senador a Bolsonaro, em 2020, por conta da gestão da pandemia da Covid-19. Na época, Collor criticou o apoio do presidente a manifestações antidemocráticas e o incentivo ao descumprimento de medidas sanitárias e chegou a sugerir que Bolsonaro, como ele próprio, poderia ser alvo de impeachment. Ao longo do ano passado, no entanto, após a aproximação de Bolsonaro com Lira e o Centrão, Collor passou a aparecer em eventos com o presidente.

— Collor escolheu o bolsonarismo como nicho dele. Lula está muito à frente no estado, mas a capital, por exemplo, teve um voto mais bolsonarista nos últimos anos— afirma L essa, hoje candidato a vice na chapa do governador Paulo Dantas (MDB).