Título: Hotéis toleram prostituição no DF
Autor: Cristiane Madeira
Fonte: Jornal do Brasil, 05/12/2005, Brasília, p. D3

O Setor Hoteleiro Sul é um dos mais tradicionais pontos de prostituição de Brasília e, com o tempo, a relação dos administradores e funcionários dos hotéis com as profissionais do sexo passou a ser de cumplicidade. Um não atrapalha o trabalho do outro, mas o jogo tem regras e todos as respeitam. É o que mostra tese apresentada à Universidade de Brasília, UnB. Não há argumento legal que impeça a entrada de prostitutas nos hotéis. Mas para não haver constrangimento, elas devem usar roupas discretas e ser identificadas na recepção. A medida, dizem os gerentes, serve para garantir a segurança dos clientes e evitar confusões.

Os hóspedes, por sua vez, pagam uma taxa adicional para levá-las ao quarto. No caso, porque fazem o check in de um quarto de solteiro. Ao subir com uma prostituta, estão utilizando o apartamento como de casal, o que implica um reajuste no pagamento.

O gerente do Grand Bittar, Henrique Severien, afirma que, apesar de não haver freqüência ostensivade prostitutas nas dependências do hotel, o estabelecimento não tem como barrar quem quer que seja.

- No caso de um hóspede querer um programa no quarto do hotel, cobramos uma taxa pela ocupação do apartamento. Mas o valor é cobrado para qualquer pessoa que suba com o cliente, seja ela uma prostituta, uma amiga ou um parente - explica Severien.

Um outro gerente de hotel disse que a taxa não funciona dessa maneira. Mas ele não quis se identificar e pediu para manter o nome do hotel em sigilo. Ele afirma que a quantia adicional é cobrada somente no caso da mulher ser prostituta.

- Se uma irmã ou amiga do hóspede vai visitá-lo no quarto por algumas horas, não cobramos este adicional de ocupação. O pessoal da recepção está um pouco mais acostumado. Então eles sabem distinguir quem é ou não garota de programa. Mas tem umas que são tão discretas que passam despercebidas. Mas mesmo sem cobrar, pedimos a identificação de todos os que sobem - conta.

Um outro gerente de hotal que também não quis se identificar para não comprometer o nome do estabelecimento, confirmou que a taxa é cobrada do hóspede que subir com uma prostituta para o quarto, mas que o valor não é cobrado se a pessoa for parente ou amiga, desde que não vá dormir no apartamento.

- Tentamos restringir ao máximo. Os recepcionistas sabem fazer esta distinção. Não temos como barrar todas as pessoas. Há prostitutas que são discretas, de luxo. Nem sempre é cobrado porque não sabemos se se trata de uma profissional ou uma amiga do hóspede que só foi visitá-lo - diz o gerente.

Brasília não tem tradição de turismo sexual como ocorre em cidades do litoral nordestino, por exemplo. O fluxo de homens engravatados nos hotéis da capital federal existe, normalmente, por motivos de trabalho e reuniões de negócios.

Para não ficar só na esfera do trabalho, o comércio do sexo se torna uma opção de lazer durante a estada desse homens. E não existe oferta sem demanda. É o que defende o jornalista Sérgio Maggio, autor da tese de mestrado na Universidade de Brasília sobre o tema. Segundo ele, as prostitutas circulam pelo Setor Hoteleiro Sul porque há procura dos serviços prestados por elas. E o cliente preferencial é o hóspede.