Valor Econômico, v. 20, n. 4977, 08/04/2020. Internacional, p. A9

Maioria dos economistas apoia isolamento social contra o coronavírus
Martin Sandbu


Comenta-se que Harry Truman, presidente dos EUA de 1945 a 1953, teria dito que não via a hora de conhecer um “economista com um só braço”, capaz de dar conselhos diretos, em vez do tradicional “por um lado... mas pelo outro”. Na crise do coronavírus, seu desejo pode ter se tornado realidade. Economistas do mundo acadêmico nos dois lados do Atlântico são praticamente unânimes em seu apoio às medidas de confinamento tomadas pelos governos para impedir a disseminação do vírus, apesar dos enormes custos econômicos que acarretam.

Ao longo da semana passada, o tamanho desses custos ficou mais visível. Muitos países vêm perdendo empregos a um ritmo que não se via desde os anos 30. Dez milhões de americanos entraram no seguro-desemprego e um milhão de britânicos se registraram para receber um crédito universal nas últimas duas semanas.

Os índices de atividade econômica em grandes países europeus apontaram as piores quedas na história. A maioria dos analistas agora prevê uma contração no PIB mundial maior e mais rápida do que a vista na crise financeira global de 2008-09.

Algumas pessoas perguntam se a cura não poderia ser pior do que a doença. Mas a resposta dos economistas é um retumbante “não”.

“Em tempos de grande incerteza, a maioria dos economistas pensa que o governo deveria intervir”, disse Rachel Griffith, presidente da Sociedade Econômica Real, do Reino Unido, e professora na Universidade de Manchester.

Pesquisas com os principais economistas mostram um nível de consenso gritante a favor das medidas de confinamento.

A pesquisa mais recente da Comissão de Especialistas Econômicos do centro de estudos IGM com os principais macroeconomistas dos EUA perguntou o que pensavam da afirmação “Abandonar confinamentos estritos em um momento no qual a probabilidade de ressurgimento das infecções continua alta levará a danos econômicos totais maiores do que os da manutenção dos confinamentos para eliminar o risco de ressurgimento”. Oitenta por cento concordou e o restante não respondeu ou disse não ter certeza. Nenhum especialista discordou.

Na Europa, 65% dos consultados concordam que “confinamentos estritos - incluindo o fechamento de atividades não essenciais e limitações severas ao deslocamento das pessoas - provavelmente são melhores para a economia no médio prazo do que medidas menos agressivas”. Apenas 4% dos consultados discordaram.

“Claramente, há um custo” com as medidas de confinamento, disse Griffith, “mas qual seria a alternativa? O custo de não conter o vírus seria maior - até economicamente”. Salvar vidas não apenas tem um valor intrínseco, pois o medo de contágio também poderia causar desestabilização econômica mesmo na ausência de ação governamental, explicou.

Enquanto houver “crescimento exponencial da infecção [...] não me surpreendo de que haja consenso sobre a necessidade de confinamento”, disse Beatrice Weder di Mauro, presidente do centro de estudos Centre for Economic Policy Research. “As divergências serão sobre por quanto tempo e como sair disso.”

Por enquanto, os economistas vêm deixando aos especialistas médicos a questão sobre quando o contágio poderá ser considerado sob controle. “Deveríamos levantar as restrições no minuto que pudermos”, disse Griffith, “quando tivermos testes e medidas para conter o vírus [...] por enquanto é uma questão médica não econômica”.

No meio tempo, muitos governos têm pedido a economistas para ficarem atentos aos custos do confinamento e à melhor forma de mitigá-los sem interferir nos efeitos epidemiológicos desejados. “Há muitas questões micro [econômicas]” nas quais os economistas podem ajudar disse Griffith, “mas em termos gerais o governo deveria fazer o que está fazendo”.

O papel mais significativo dos economistas será pensar o que fazer no longo prazo, segundo Griffith. “As grandes questões são temas geracionais”, como “o que acontecerá com aqueles que tiverem menos aulas” como resultado do confinamento. Já há uma “enxurrada de pesquisas” sendo feitas, disse.

“Como podemos reconstruir a economia e qual dever ser o foco?” Esse é o tipo de questionamento que os economistas deveriam explorar - “começando com seis meses e continuando para os próximos 20 anos”. / Financial Times