Título: Dólar em baixa, custos em alta
Autor: Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

A farra do dólar barato está custando caro para a Companhia Vale do Rio Doce. A terceira maior mineradora do planeta vai implementar, em 2006, um severo programa de redução de custos, para compensar as perdas provocadas pelo câmbio sobrevalorizado. Com a alta de 21% do real frente ao dólar e de 39% diante do euro, desde o início do ano, os resultados financeiros tornaram-se menos espetaculares aos olhos dos investidores estrangeiros. ¿ Temos que trabalhar fortemente na contenção de custos, esta é uma das nossas prioridades para o ano que vem. Em reais, nossos gastos subiram, mas em dólares subiram muito mais. E não há perspectivas de alterações significativas no câmbio. O fluxo externo continua forte ¿ afirmou o presidente da CVRD, Roger Agnelli, acrescentando que todos os indicadores da companhia terão metas de melhoria.

De acordo com o executivo, 70% dos custos da empresa são em reais, contra 80% de receitas em moeda americana. Com o dólar em queda, cria-se uma distorção no balanço, que precisará ser corrigida com cortes de despesas. Agnelli não informou se haverá redução de pessoal, mas ressaltou que o foco será no aumento da eficiência.

A Vale acaba de concluir levantamento detalhado das operações de cada uma de suas minas no país. Os destaques em cada segmento de atuação servirão como referência para as demais. Além disso, investiu US$ 50 milhões na implantação de um Enterprise Resource Planning (ERP, sistema de gestão integrada) da Oracle, que permite o gerenciamento de estoques e cargas em tempo real.

O câmbio sobrevalorizado corroeu parte significativa dos ganhos obtidos no início do ano com o reajuste de 71,5% nos preços do minério de ferro. Agnelli negou que a Vale pretenda impor aumento maior, em 2006, como forma de compensação, mas esquivou-se de comentar as projeções de analistas de mercado, apontando para alta entre 10% e 20% nas cotações da commodity.

¿ Isso é pura especulação. Tudo vai ser resolvido na mesa de negociação. E a negociação só acaba quando termina ¿ brincou.

Questionado sobre a possibilidade de grandes clientes chineses endurecerem as negociações, ameaçando buscar novos fornecedores, o executivo sustentou que a demanda continua forte, mantendo os preços em alta.

¿ O que regula o mercado é a relação entre oferta e demanda. E a demanda está aquecida. Toda a nossa produção está comprometida ¿ afirmou, lembrando que os preços no mercado spot (à vista) seguem acima dos valores dos contratos futuros, sinal de que a procura por minério deverá permanecer sólida nos próximos meses, na esteira do crescimento global.

Apesar das perdas com o dólar fraco, Agnelli traçou um cenário otimista para o país, assinalando que o risco Brasil está em nível historicamente baixo e que os juros cairão, a médio prazo, para patamares mais civilizados.

¿ Claro que todos gostaríamos que o ritmo de implantação das reformas estruturais de que o país precisa fosse muito mais rápido. Mas temos que nos conscientizar de que esse não é um problema do governo A ou B, mas sim de toda a sociedade ¿ disse o executivo, que não vê riscos de novas turbulências nos mercados internacionais no curto prazo.