Correio Braziliense, n. 21868, 30/01/2023. Política, p. 2
Ex-ministro tenta reunir radicais e moderados
Ex-ministro do Desenvolvimento Regional do governo Bolsonaro, Rogério Marinho (PL-RN) se equilibra na retórica para não perder os apoios que tem e espantar aqueles que ainda está buscando. Para não desagradar a extrema direita, fala em levar adiante, caso seja eleito Presidente do Senado, temas de costumes como homeschooling, redução da maioridade penal, garimpos em territórios indígenas, expansão do uso de agrotóxicos e impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) — sobretudo o de Alexandre de Moraes. Mas, para tentar captar votos entre os não radicais que se identificam com a direita, fala em um Senado “independente” e com capacidade de dialogar, só que “sem revanchismos”.
O discurso de isenção e equilíbrio de Marinho, porém, se sustenta por pouco tempo. Além de vir afirmando que deseja abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o terrorismo de 8 de janeiro — proposição da qual a maioria da base do governo é contrária —, ao lançar a candidatura com apoio de PL, PP e Repúblicanos, no sábado, acusou o adversário Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ter ter sido “conivente” com a invasão do Congresso. Segundo ele, a CPI é para apurar “falhas e omissões” que levaram à destruição dos prédios públicos, mas tentou pregar no adversário a pecha de não defender as instituições.
Nas redes bolsonaristas, a vitória de Marinho é vista como um “agora ou nunca” — se ganhar, representa uma contenção ao “comunismo”; se perder, o país estará em marcha acelerada rumo à “venezuelização”. Ao observar a dificuldade do ex-ministro na corrida pelo comando do Senado, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, ligou para Jair Bolsonaro para que entrasse no circuito. O presidente começou a telefonar para aliados pedindo que votem em Marinho, mas, principalmente, “contra o PT”.
Diante do favoritismo de Pacheco, aliados do ex-ministro recorrem, nas redes sociais, à estratégia do “gabinete do ódio”, na tentativa de desconstruir o adversário. Além da disseminação de mentiras e distorções, os bolsonaristas também pedem que os eleitores pressionem os parlamentares. Uma das estratégias é cobrar para que a votação seja aberta, com cada senador declarando o nome do seu candidato — o que faria com que, em caso de derrota de Marinho, os nomes e as fotos dos que votaram contrariamente passassem a circular nas redes de extrema direita, com qualificações como “traidores” ou “inimigos da pátria”.
Insegurança
Apesar dos esforços dos bolsonaristas, os apoiadoresas de Marinho não estão tão seguros da eficácia das manobras que têm sido feitas. A começar no fato de que há uma grande desconfiança de que dentro do PL — a segunda maior bancada da Casa, com 13 senadores — haverá traições. A conta, que é a mesma feita por aliados do senador eleito e pelos de Pacheco, é de que pelo menos cinco integrantes da legenda optarão pela reeleição do parlamentar mineiro.
De fora da aliança entre PL, PP e Republicanos, Marinho espera dois votos do PSDB — Izalci Lucas (DF) e Plínio Valério (AM) —, um do PSC e outros tantos que podem migrar do União Brasil, apesar de todos os esforços do senador Davi Alcolumbre (AP) de atrelar o partido à campanha de Pacheco, ainda que extra-oficialmente. O ex-ministro de Bolsonaro afirma ter, agora, 34 votos e confia que até quarta-feira obterá os sete que faltam para chegar ao mínimo de 41 para se eleger.
A tarefa de Marinho, porém, é ingrata. Isso porque a avaliação majoritária na Casa é de que o momento do país pede um presidente do Congresso que tenha perfis de consenso e que paute discussões de interesse da sociedade, em vez de temas caros somente a alguns nichos. (KH e FG com Agência Estado)
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