O Globo, n. 32530, 30/08/2022. Saúde, p. 24
Butantan retoma produção de vacina CoronaVaC
Mariana Rosário
O Instituto Butantan retomou sua produção de vacinas CoronaVac. A ideia é envasar 1 milhão de doses do imunizante compradas pelo Ministério da Saúde para uso em crianças de 3 a 5 anos, último grupo incluído no programa de imunização contra Covid-19.
As doses, que começaram a ser produzidas no domingo, devem ficar prontas para entrega na semana do dia 12 de setembro. Ao todo, o Butantan adquiriu suficiente matéria-prima para produzir 6,5 milhões de doses. Do total, 3,5 milhões estarão na primeira fase de finalização — como somente 1 milhão está prometido ao Ministério da Saúde, restam 2,5 milhões para mais negociações.
A outra metade do lote, mais 3 milhões de unidades, ficará reservado em formato de bulk — uma solução concentrada com maior prazo de validade.
As vacinas produzidas agora terão pequena alteração no rótulo, que incluirá as novas faixas etárias autorizadas a receber o imunizante. O conteúdo das doses pediátricas e para adultos é o mesmo.
A CoronaVac foi a vacina responsável por iniciar a imunização contra Covid-19 no Brasil, em janeiro de 2021. Também foi responsável por dar a primeira camada de proteção às pessoas com pouco mais de 60 anos no país. Com o passar dos meses e a chegada de novos tipos de vacina, o imunizante passou a perder protagonismo no programa de imunização brasileiro.
Agora, contudo, é a única disponível para vacinar crianças de 3 a 5 anos no país. A Pfizer, por sua vez, já solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aval para aplicar as doses de 6 meses em diante. A CoronaVac é tida por especialistas como uma boa solução para a imunização pediátrica, graças a seus efeitos colaterais mais reduzidos.
No dia 15 deste mês, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 1 milhão de doses de CoronaVac do Butantan para essa faixa etária. A decisão aconteceu um mês depois do aval regulatório para a imunização desse grupo, após O GLOBO mostrar que a falta de vacinas fez com que a aplicação nas crianças de 3 a 5 anos não avançasse.
Duas opções
A compra via Butantan foi uma mudança nos planos da pasta. Como mostrou a coluna de Lauro Jardim, o ministério havia considerado o preço por dose muito alto e, por isso, optado por comprar do Covax Facility, consórcio global de vacinas gerenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na época, o ministro Marcelo Queiroga explicou que havia duas possibilidades de aquisição. A alternativa via Covax Facility seria para acelerar o envio, já que as doses estavam prontas. Outro caminho seria trazer o IFA — insumo farmacêutico ativo, matéria-prima para fabricação de vacinas — para produzir no Butantan.
— No entanto, temos algumas dificuldades, porque as vacinas que nos ofereceram têm um prazo de validade relativamente curto. Então, o Butantan providenciou o IFA e nós vamos adquirir as vacinas necessárias para imunizar os filhos de todos os pais que queiram levá-los para as salas de vacinação —disse Queiroga.
A instituição prevê entregar em setembro as doses, produzidas com o IFA que tem importado desde que a Anvisa ampliou a liberação do imunizante para a faixa etária a partir de 3 anos, em julho.
“Vale lembrar que o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção do imunizante, que está sendo importado da China, é capaz de suprir a demanda de seis milhões de doses de CoronaVac”, informou o instituto em nota, na época.
O montante, no entanto, ainda é insuficiente para imunizar todo o público alvo, mas deve ajudar a desafogar cidades com falta de doses. Segundo o artigo de pesquisadores brasileiros “Government inaction on Covid-19 vaccines contributes to the persistence of childism in Brazil”, publicado na revista The Lancet, seria necessárias duas doses para 8,3 milhões de crianças de 3 a 5 anos no Brasil.
— Há vacinas CoronaVac em estados e municípios. O ministério tem trabalhado para que essas vacinas sejam realocadas nos municípios que não tem disponibilidade — disse Queiroga.