Valor Econômico, v. 20, n. 4978, 09/04/2020. Especial, p. A7

Pandemia deixa fosso social mais explícito

Glauce Cavalcanti
Rennan Setti
Lucila Soares 


A pandemia do coronavírus explicitou o fosso social brasileiro, tornando urgente o socorro à população mais vulnerável tanto em termos econômicos como de saúde. Diante disso, segundo o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, as preocupações fiscais ficarão em segundo plano neste momento.

No momento, o foco é saúde, proteger as pessoas vulneráveis e fazer o máximo para a manutenção do emprego, afirma. “Todos precisam ser adultos, se unir e colocar isso como prioridade.”

O secretário do Tesouro defende as medidas de isolamento, ressaltando que essa restrição sanitária torna obrigatório para o Estado proteger aqueles que não estão podendo trabalhar, sobretudo os que estão na economia informal. Ele cita a importância do auxílio emergencial de R$ 600: “O governo precisa encontrar essas pessoas [vulneráveis] e dar alguma renda. Nessa hora, precisamos contar com o Estado. E ainda bem que o Brasil tem um Estado com uma rede de assistência social muito grande, criada ao longo dos anos pós-Constituição”.

A economista e consultora Zeina Latif afirma que as características socioeconômicas do Brasil dão a medida da urgência. “Somos um país pobre. É preciso olhar para os mais necessitados, que estão muitas vezes do nosso lado”, afirma.

De acordo com Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, a assistência aos mais frágeis necessário isolamento social de quem pode ficar em casa tem impactos econômicos difíceis de contornar.

“O Brasil já optou pela quarentena horizontal. Colocou quase que todo mundo já dentro de casa. Fecharam as lojas, fecharam todos. Hoje, se você abrir isso, não vai ter cliente nas ruas. Não tem mais o que se discutir”, afirmou.

Na varejista, a ampliação do programa “Magazine e você” permite que as pessoas desempregadas utilizem a plataforma da empresa para vender produtos on-line e gerar renda.