Título: Lula admite ajuste econômico
Autor: Karla Correia e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2005, País, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que poderá promover ajustes na política econômica do governo. Questionado por jornalistas sobre o assunto, Lula respondeu: - Vai, vai (haver ajuste).

O breve encontro ocorreu depois de cerimônia de entrega do prêmio FINEP de Inovação Tecnológica às empresas que mais se destacaram em 2005 no campo da inovação tecnológica.

A declaração do presidente foi considerada sintomática por auxiliares e ministros do núcleo político do governo. Os ''reparos'', no entanto, não implicariam na mudança do atual modelo da economia. Seria uma maneira de reduzir o aperto fiscal privilegiando os investimentos no ano eleitoral. Anteontem, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, já falava em ''pressão da sociedade a ser considerada''.

Resta saber o ''timing'' do ajuste. De acordo com um ministro palaciano, nada será feito sem a concordância com os integrantes de área econômica do governo. Ou se costura um consenso ou o presidente protela para abril do ano que vem o que está sendo chamado de ''ajuste na dosagem''. No Planalto trabalha-se com a possibilidade de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deixar o governo em 2006 para se lançar candidato em Goiás. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Fazenda, Antonio Palocci, também poderão concorrer a cargos eletivos.

- O Palocci, ao contrário de Malan, é político, tem base eleitoral e pode ser candidato. Essa hipótese não pode ser descartada - lembrou um auxiliar do presidente.

Anteontem com o objetivo de acelerar os investimentos, uma reivindicação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o presidente Lula autorizou a liberação de pouco mais de R$ 2,1 bilhões para serem gastos até o fim do ano. Além de incrementar os gastos públicos no fim de ano, a idéia era conseguir a aprovação do Orçamento 2006 através da liberação de emendas parlamentares tanto para deputados da base aliada quanto para os da oposição. Ontem, no entanto, deputados e senadores do PMDB e do PFL derrubaram uma sessão que votaria a abertura de créditos especiais relativos ainda à execução orçamentária deste ano. Foi uma amostra do que está por vir na tramitação da peça orçamentária de 2006, disse o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).

- O governo passou o ano inteiro fazendo superávit primário em cima do contingenciamento de emendas do Congresso, e agora quer soltar recursos a conta-gotas. Não é de se estranhar a má-vontade dos parlamentares em votar esse Orçamento - pondera o deputado, dando o tom da disposição do partido em obstruir a votação do Orçamento 2006.

A derrubada da sessão pegou de surpresa o relator do Orçamento, deputado Carlito Merss (PT-SC).

- A sessão era apenas para discutir créditos adicionais, tentar limpar a pauta e liberar a tramitação do Orçamento. Não entendi até agora o que aconteceu - reclamou Merss.

Ele pretende anunciar hoje a ampliação da estimativa de receitas para o cálculo das dotações orçamentárias.

Segundo Pauderney Avelino, a liberação de recursos anunciada na segunda-feira pelo governo não será suficiente para reverter os humores do Parlamento e viabilizar a votação da peça orçamentária até 31 de dezembro, a tempo de permitir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva planejar os investimentos de que tanto precisará em um ano de eleições.

Esse é o motivo oficial. Por trás da disposição da legenda em obstruir a votação do Orçamento estaria a pressão de estados e municípios para aumentar ass transferências da União.