Valor Econômico, v. 20, n. 4978, 09/04/2020. Brasil, p. A5

Após isolamento, CNI quer testar covid em três categorias

Mariana Ribeiro 


Como parte da estratégia para a retomada da atividade econômica, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) propõe que 1,5 milhão de trabalhadores da indústria de alimentos e bebidas, fármacos e energia retornem ao trabalho e passem por testes de covid-19, a cada 15 dias, quando houver flexibilização do isolamento social. A ideia é que o processo seja escalonado até que a checagem abarque todos os cerca de 9,4 milhões de funcionários da indústria. O isolamento, assim, ficaria restrito aos casos confirmados.

A entidade considera que os trabalhadores desses três segmentos, que movimentam 28,7% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial, devem ser os primeiros a retornar às suas funções, excluídos os que integram os grupos de risco, devido ao impacto sobre a economia. “A operação deve considerar a atual demanda de produtos industriais e o impacto na retomada”, diz em nota enviada ao Valor. Os testes seriam aplicados inclusive em quem não apresentar sintomas.

A entidade enfatiza que a ação faz parte de um plano de retomada “gradual e segura” das atividades e deve começar a ser colocada em prática apenas no momento em que “as autoridades sanitárias avaliem ser possível flexibilizar o isolamento social”. A proposta consta de documento enviado no final do mês passado aos presidentes dos três Poderes.

A CNI não detalha o custo da sugestão. Diz apenas que os testes seriam custeados com recursos dos entes públicos, das empresas, do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). O Sesi atuaria na viabilização da logística e na capacitação das empresas para aplicação dos testes. O Senai, diz a entidade, já está articulando, junto a empresas especializadas, o fornecimento de testes “em número suficiente, de forma que seja viabilizado o atendimento da demanda estimada”.

A ideia é que a testagem seja realizada a cada 15 dias enquanto o número de casos estiver aumentando e a cada 30 dias quando houver desaceleração. “Se o teste for positivo, esses trabalhadores devem ser afastados pelo período recomendado de isolamento, seguindo o protocolo do Ministério da Saúde”, diz a nota.

A operação será ampliada até que todas as empresas estejam capacitadas e existam kits de testes disponíveis para atender a todos os trabalhadores da indústria. A proposta foi baseada em estudo do Imperial College of London, que analisou a experiência da Coreia do Sul e da Alemanha no combate à pandemia, e a previsão é que o processo dure pelo menos seis meses após o fim do isolamento social amplo ou até que a pandemia esteja sob controle.

A CNI destaca que o Senai está trabalhando no estímulo à ampliação de testes rápidos. Foram selecionados, por exemplo, projetos para a produção de testes da empresa Hi Technologies (Hilab) com previsão de entregar 450 mil testes em três meses. Outro projeto, em parceria com a MDI Indústria e Comércio de Equipamentos Médicos, desenvolverá testes “padrão ouro”, recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A estimativa é de processamento de 4.800 testes mensais. Além disso, na terça-feira, foram selecionados mais nove projetos de combate ao coronavírus, que vão receber R$ 9 milhões.