Título: PF desmantela lavanderia de dinheiro
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2005, País, p. A5

A Polícia Federal prendeu ontem sete pessoas no Rio e uma em São Paulo acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal, através de imobiliárias. O esquema foi deflagrado pela Operação Babilônia. Entre os presos estava o advogado Chaim Henoch Zalcberg, envolvido no escândalo Propinoduto. Um de seus sócios, Antonio Wanis Filho, continuava foragido até o início da noite de ontem. Um uruguaio, também acusado de envolvimento no esquema, também está sendo procurado pela polícia de seu país.

A operação Babilônia foi o desfecho para um dos ''inquéritos-filhote'' do caso do Propinoduto. Na época do escândalo, a Polícia Federal deixou de fazer uma investigação mais profunda dos esquemas usados para lavagem de dinheiro. Em junho deste ano, o caso foi retomado em uma investigação que contou com 130 policiais federais.

Chaim, dono do escritório Zalcberg Advogados, foi apontado como o líder da operação de lavagem de dinheiro que funcionava há dez anos e chegou a movimentar cerca de US$ 30 milhões. Ele foi o ponto de partida das investigações da Operação Babilônia porque seu nome apareceu como um dos responsáveis pela evasão de divisas no esquema do Propinoduto, que enviou ilegalmente para a Suíça US$ 33,4 milhões. Ontem, ele foi preso na sua casa, no Alto Leblon.

- O escritório de advocacia apareceu nas movimentações financeiras do Propinoduto, mas não foi apurado na época, porque o nosso foco era a corrupção - explicou o delegado Algacir Mikalovski, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, responsável pela operação.

Chaim, que tem 70 anos, pode pegar de 10 a 15 anos de prisão, segundo o delegado. Os presos foram levados para a Polinter, no Rio.

O foragido Wanis Filho, sócio de Zalcberg, aparece também nas investigações da saída ilegal de US$ 30 bilhões do Banestado.

Na operação realizada ontem foram presos ainda, no Rio, os sócios do escritório Alcindo de Azeredo Barboza, Shirley Andrade, Taíssa Horovitz Balassiano, o advogado Fabrício de Oliveira Silva, o contador Manuel Ilidio Campos Barreiro, e os laranjas Adaílton Guimarães e Renato Bastos Rosa. Este último foi preso em São Paulo.

Os nove mandados de prisão foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio. Foram cumpridos outros 38 mandados de busca e apreensão, sendo 30 no Rio e oito em São Paulo.

Zalcberg oferecia para grandes empresas um esquema de ''blindagem patrimonial'', uma forma de maquiagem do caixa dois. O dinheiro ''sujo'' era enviado ao exterior e trazido de volta ''lavado'' na forma de investimentos no setor imobiliário.

O escritório Zalcberg Advogados criava pequenas empresas de fachada - a maioria do setor imobiliário - que recebiam o dinheiro não declarado de grandes empresas e enviavam para o exterior na forma de pagamento de empréstimos ou por doleiros. O montante era recebido por uma off-shore (corretora de investimentos no exterior), que reenviava a quantia para o Brasil na forma de investimentos na empresa criada. Freqüentemente o inheiro era usado para compra de imóveis ou construção de prédios e condomínios.

O delegado não informou quais são as grandes empresas que podem estar envolvidas.

- O próximo passo é identificar quem são os clientes desse escritório de advocacia - disse o delegado.

A Polícia Federal já identificou 15 empresas de fachada utilizadas pelo escritório Zalcberg, que funcionavam no mesmo endereço, na Rua da Quitanda, 19, sala 906. Não havia funcionários ou movimentação no local que caracterizasse atividades empresariais.