Correio Braziliense, n. 21870, 01/02/2023. Política, p. 4 
 
DF terá memorial da democracia 

Victor Correia 
 
 
O Ministério da Cultura anunciou, ontem, que está trabalhando na criação de um memorial da democracia para relembrar os ataques terroristas de 8 de janeiro. O comunicado foi feito pela ministra Margareth Menezes durante a posse de Leandro Grass como presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no terraço do Itamaraty. Ligado à pasta, o Iphan atua diretamente no projeto. 

Em sua posse, Grass também delineou sua gestão, que fará um esforço de, além de preservar o patrimônio, conscientizar a população com investimentos em comunicação e educação sobre a importância do órgão. 

Em seu primeiro ato no cargo, ele extinguiu um grupo de trabalho do órgão voltado à preservação e à restauração de armas de “valor cultural”, criado durante o governo de Jair Bolsonaro. 

“Um exército de desalmados atacou os símbolos dos Três Poderes. Convoquei uma reunião no Ministério da Cultura. Formamos uma equipe, e a destreza política do Leandro Grass, sua diplomacia e agilidade de pensamento foram determinantes na busca da solução”, discursou a ministra Margareth Menezes, durante a solenidade. 

Os ataques causaram milhões de reais em prejuízos para os prédios públicos e obras de arte neles contidas. O Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) são todos tombados como patrimônio material pelo Iphan, que atua na reparação dos danos. 

“O Ministério da Cultura e o Iphan já estão trabalhando para criar um memorial da democracia aqui em Brasília. Para deixar marcado e para que não ocorra outra violência do mesmo tipo contra a democracia”, frisou a ministra. 

As conversas para formação do memorial, segundo Grass, se iniciaram no mesmo dia dos ataques. “Após os atos golpistas do dia 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, é necessário que todos nós tenhamos a certeza de que o patrimônio brasileiro permaneceu de pé. A democracia permaneceu de pé”, discursou Grass ao tomar posse. “O nosso patrimônio cultural foi desenhado e sonhado para acolher, para integrar, para ser a síntese do que há de mais belo no nosso país”, completou. 

Após assinar o termo de posse, Grass revogou a portaria do Iphan que criou o grupo de trabalho para preservação de armas de fogo, criado em 2021. O objetivo da equipe era criar “critérios de avaliação de armas de valor cultural”, para que elas pudessem ser enviadas a museus. 

Em coletiva de imprensa após a solenidade, Grass detalhou seus planos para o Iphan. Seu primeiro ato marca o rompimento do governo atual, de Luiz Inácio Lula da Silva, com a política armamentista de Bolsonaro. “As armas de fogo, infelizmente, não representam absolutamente nada para a cultura brasileira. O que representa algo de importante é a nossa história, a nossa memória, as tradições do nosso país, as pessoas. Armas de fogo não são patrimônio cultural, elas matam”, enfatizou. 

Sobre o memorial da democracia, Grass disse que haverá um espaço físico na capital federal para relembrar os ataques, mas que a criação faz parte de um conjunto maior de políticas. Ele pretende investir em educação patrimonial, “comunicando às pessoas, especialmente aos jovens, aquilo que é seu” e recuperando o tratamento dado a fatos históricos, como a ditadura militar de 1964 e o período de escravidão. Grass indicou, ainda, que outros memoriais podem ser construídos em estados. 

“Vai haver um espaço físico, em Brasília, conectado a outros espaços do Brasil, com outras ações complementares, em parceria com as escolas e com os meios de comunicação. Para que essa mensagem, que é a mensagem da democracia, através da conexão entre as pessoas com seu patrimônio cultural, se estabeleça”, declarou. 

O presidente do Iphan sinalizou que haverá políticas de preservação da cultura indígena, incluindo a dos Ianomâmis, e da cultura negra. Também será retomada a produção da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criada em 1937 e descontinuada no governo Bolsonaro. 

Outras ações a serem retomadas são o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial e a Coordenação de Diversidade Linguística. 

Estavam presentes na solenidade, entre outras autoridades, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o secretário-executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares; a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha; e o presidente da Embratur, Marcelo.