Título: 'Otimismo envergonhado'
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

As expectativas para a economia neste fim de ano não são as melhores, mas, quando o assunto é o próprio negócio, o empresariado goza de condições privilegiadas, com perspectiva de crescimento pelo terceiro ano consecutivo, inflação sob controle, estabilidade macroeconômica e recuperação da renda da população, impulsionando o mercado interno. Essa dicotomia foi definida pelo diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, como ''otimismo envergonhado'', ontem, em palestra promovida pela Associação e pelo Sindicato de Bancos do Estado do Rio de Janeiro (Aberj/Sberj).

Como integrante do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Barros tem ouvido queixas recorrentes de grandes empresários. A maioria, no entanto, vem registrando resultados expressivos, com expansão anual de seus negócios na casa dos 20%. Mesmo assim, atacam duramente a política econômica, o que, para o executivo, é um erro.

- Não podemos ressuscitar debates antigos. Pela primeira vez, vamos iniciar um ano com as projeções de inflação no centro da meta. Isso é fruto de um trabalho hercúleo. É bizantino, a essa altura do campeonato, questionar o regime de metas - afirmou, sem citar nominalmente integrantes do primeiro escalão do governo que vêm defendendo mudanças no rumo da economia.

Barros reconhece que o câmbio sobrevalorizado vem afetando os resultados de exportadores e propiciando uma invasão de produtos chineses. Mas lembra que, segundo pesquisa do Bradesco, as empresas estão prevendo mais investimentos em 2006.

Ex-presidente do Banco Central, hoje diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), Carlos Langoni alertou para o risco de se buscar ''atalhos mágicos'', que levariam a um ''crescimento transitório''.

- O que preocupa é a impaciência - afirmou o professor, que comparou o país a um automóvel acelerando com o freio-de-mão puxado, numa referência aos juros altos e à elevada carga tributária. - Soluções heterodoxas não são a resposta, e sim o aperfeiçoamento da arquitetura macroeconômica atual.

Langoni também alertou para o risco de um ''neopopulismo'', embora considere a hipótese remota. E concluiu afirmando que mudar a política econômica, agora, tiraria o país da ''ante-sala do crescimento sustentado''.