Título: Indústria segue em retração
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. A17

O retrocesso da economia do país no terceiro trimestre, quando o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 1,2%, dá sinais de ter contaminado a atividade industrial no começo do quarto trimestre. As expectativas para a Pesquisa Industrial Mensal de outubro, que será divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a produção física do setor no país, são de nova queda, depois do recuo de 2% em setembro.

A estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento, é de queda de 0,5% na produção, frente ao mês anterior, com dados já dessazonalizados (ou seja, descontada a influência da época do ano).

- Outubro foi influenciado por fatores que causaram o desempenho ruim no terceiro trimestre - diz Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea.

A Tendências Consultoria prevê um leve recuo de 0,3% na produção industrial em outubro. Segundo o economista Guilherme Maia, houve forte queima de estoques no terceiro trimestre, movimento que continuou em outubro e influenciou decisivamente a queda da produção.

Ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou os Indicadores Industriais referentes a outubro. Os dados mostram que as vendas reais do setor caíram 0,91% em relação a setembro e 2,51% na comparação com outubro de 2004. Na comparação com os meses anteriores, a pesquisa mostrou o quarto recuo consecutivo. Para Maia, isso é uma mostra de que a queima de estoques produzida no terceiro trimestre continuou em outubro.

- As horas trabalhadas e o pessoal empregado também subiram (0,95% e 0,09%, respectivamente) em relação a setembro, o que mostra que para os dois últimos meses do ano haverá crescimento na produção - diz o economista da Tendências.

Para Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o quarto trimestre ''não será brilhante, mas fechará com crescimento''.

- Normalmente, a produção cresce entre agosto e outubro, mas esse ano os estoques estavam altos e o comércio postergou ao máximo as encomendas. Em 2005, Papai Noel chegou um pouco mais tarde para a indústria e a recuperação vai chegar em novembro - ressalta Almeida, acrescentando que apenas os setores exportadores e os que concorrem com grande quantidade de produtos importados, como calçados, têxteis e brinquedos podem manter a trajetória de queda.

A CNI também revisou sua projeção de crescimento do PIB em 2005, de 3,5% para 2,5%. Para a indústria, a previsão passou de 4,4% para 3%.

Para Flávio Castelo Branco, economista da CNI, 2006 deve começar de forma moderada.

- O último trimestre do ano deve mostrar recuperação em relação ao terceiro trimestre, mas no geral a economia está estabilizada, alcançou um patamar elevado, mas perdeu um pouco da sustentação do crescimento - explica.

Com Kelly Oliveira