Correio Braziliense, n. 21871, 02/01/2023. Política, p. 4

Governo prega diálogo com a oposição

Vinícius Dória


A reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para o comando do Senado, já esperada pelo Palácio do Planalto, provocou uma sensação de alívio no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Políticos que participaram intensamente das articulações no Congresso para viabilizar a recondução dos presidentes das duas Casas consideram que foi desmontado, ontem, um dos principais focos da crise política pela qual passa o país desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff: a divisão do Parlamento entre dois grupos antagônicos, com a captura da maioria pelo projeto de poder do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

“A era de conflito, de guerra entre governo e Congresso, acabou. Essa vitória cria um ambiente de diálogo, inclusive, com setores da oposição, para avançarmos nos projetos prioritários”, disse o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Ele fez questão de acompanhar presencialmente a votação no Senado, em que, diferentemente da Câmara, houve disputa entre governistas e opositores ligados ao bolsonarismo. “Quero convidar o candidato derrotado (Rogério Marinho, do PL-RN) a virar a página e a abrir o processo de diálogo. A era de fuzilar a oposição neste país também acabou”, complementou Padilha.

Desde que foi eleito, Lula busca unir as forças políticas em torno da estabilidade institucional. Os atos de 8 de janeiro ampliaram o foco para a defesa da democracia. O presidente reconstruiu as pontes do Planalto com o Supremo Tribunal Federal — cujo símbolo foi a caminhada que fez pela Praça dos Três Poderes até a sede do Judiciário, na noite posterior à tentativa de golpe. Também reuniu, depois de mais de quatro anos, todos os governadores para discutir a agenda prioritária dos estados. Faltava apenas sacramentar a recondução dos presidentes do Poder Legislativo.

Ontem, com Câmara e Senado unidos no pacto não escrito de governabilidade costurado por Lula no período entre a vitória nas eleições e a posse, o Executivo vislumbra um cenário mais estável para dar andamento às pautas consideradas prioritárias neste primeiro ano de mandato: a reforma tributária, o novo marco fiscal, ações de combate à fome e a retomada das políticas públicas nas áreas de saúde, educação e moradia.

Mensagem de Lula

A agenda do governo será um dos temas da mensagem que Lula envia, hoje, ao Congresso, na abertura do ano legislativo. O texto será encaminhado ao presidente do Congresso pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), e contará com um agradecimento à conduta do Parlamento na defesa da democracia após os atos golpistas de 8 de janeiro.

O principal recado será um “convite para que o Congresso esteja junto com o governo federal e com a sociedade para aprovar os projetos que o Brasil tem pressa”, antecipou Padilha. A mensagem presidencial vai reforçar a necessidade de se criar um ambiente econômico “de segurança e tranquilidade para quem quer investir no país”, segundo o ministro.

Um dos principais articuladores da candidatura derrotada de Marinho, o senador pelo Rio de Janeiro Carlos Portinho (PL) — que deve liderar a oposição a Lula no Senado — adotou um discurso amistoso após a votação. “O mais importante é que a democracia prevalece. Espero que, no país, todos tenham a capacidade de arrefecer, de rever suas posições, e que a gente possa construir um debate de diferenças, mas que represente a vontade da população dentro do campo democrático. A gente tem certeza de que aqui não há golpistas”, disse Portinho, na saída do plenário.

Para o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), a base do governo “está robusta”. O partido dele cedeu três ministros para o governo Lula, entre eles a ex-senadora Simone Tebet (MDB-MS), atual titular da pasta do Planejamento. “Temos pautas importantes, desafiadoras. A principal é a reforma tributária. Temos agora é de entregar (resultados). E o diálogo é o melhor caminho para a gente buscar a pacificação do país”, disse Rossi ao Correio.

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