Título: 'FT' cobra expansão maior
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. A18

Nos últimos meses, os investidores estrangeiros têm sido mais compreensivos com os problemas nacionais do que os analistas brasileiros. Ontem, o prestigiado jornal Financial Times deu sinais de que a paciência pode estar se esgotando. Em editorial, a publicação britânica avisa que ''estabilidade econômica não basta, o Brasil precisa crescer a um ritmo mais rápido''. Caso contrário, a sigla BRICs (inventada por um banco de investimento para listar as potências emergentes do século 21, Brasil, Rússia, Índia e China) corre o risco de perder uma de suas letras. O texto ressalta que o presidente Lula costuma comemorar os avanços recentes do Brasil. ''Entretanto, raspe a superfície, e o novo milagre econômico do Brasil é muito menos sólido do que parece'', aponta o FT. ''Apesar da combinação de preços elevados de commodities e da abundante liquidez internacional, que criaram as melhores condições externas nos últimos 50 anos, o Brasil vai crescer neste ano apenas 3%''.

De acordo com o jornal, os superávits comerciais e em conta corrente do Brasil impressionam, assim como o controle da inflação e a austeridade fiscal. Mas mostra decepção com os juros ainda elevados, os sucessivos escândalos de corrupção e as discussões sobre o rumo da política econômica, fatores que estariam freando investimentos estrangeiros diretos, ou seja, produtivos. A valorização do real ''também é um problema'', já que reduz a competitividade de empresas brasileiras frente a outros exportadores.

Multinacionais têm escolhido países do Leste Europeu e da Ásia como destinos de novos investimentos, em detrimento do Brasil. ''Nos círculos dos negócios, há uma intensa conversa de desindustrialização'', cita a publicação, referindo-se a recente seminário promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Para garantir crescimento mais sólido, o FT prescreve a implementação de reformas estruturais, especialmente para reduzir a carga tributária de pequenas e médias empresas, e a melhoria da qualidade do gasto público.