Título: Meirelles: ''BC não é insensível''
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. A19

Menos de uma semana depois da divulgação de que a economia brasileira encolheu 1,2% no terceiro trimestre, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que a instituição não é ''insensível'' ao resultado.

- Também não quer dizer que a política monetária seja insensível ao que acontece com o nível de atividade - defendeu-se Meirelles, durante seminário realizado na sede do BC.

O presidente do banco admitiu que o combate à inflação tem exigido ''sacrifícios maiores do que o previsto'', como o menor crescimento. Após a queda do PIB no terceiro trimestre, analistas de mercado revisaram suas projeções de crescimento econômico para este ano de 3% para 2,66%. O Ipea, para 2,3%. Além disso, a inflação deve ficar acima da meta de 5,1% neste ano, de acordo com o próprio Meirelles. Ele citou a projeção dos analistas de mercado que, em média, apostam em um IPCA (índice de inflação que serve de base para as metas) de 5,6% em 2005. No entanto, o presidente do BC defendeu que o combate à inflação deva continuar para assegurar a credibilidade.

- Não é possível que a convergência para a trajetória de meta esteja sendo sempre postergada em nome dos custos inerentes ao processo de desinflação. Não há mágicas. Os custos sempre aparecem - afirmou.

Meirelles foi criticado até pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que disse na segunda-feira que o mundo vai além das metas de inflação. Ontem, no entanto, Gabrielli foi mais contido nas críticas.

- O Banco Central desempenha um papel importante na manutenção da estabilidade. A política do governo tem sido fundamental para a retomada do crescimento do país - disse, para em seguida emendar: - As condições internas para o crescimento estão dadas e que a economia brasileira vai crescer, o que para a Petrobras é importante.

Meirelles defendeu-se dizendo que o BC agiu corretamente ao não acatar as sugestões para elevar o objetivo da inflação para 2005.

- Ter calibrado a política monetária de forma mais leniente lá atrás teria significado ultrapassar até mesmo esses objetivos mais altos, não só pelo efeito direto de maior expansão da demanda devido às condições monetárias mais frouxas, mas, além disso, porque os agentes privados teriam sido mais pessimistas em relação à inflação e teriam ajustado para cima as expectativas - disse.

Meirelles concluiu que os custos do processo de controle da inflação já foram absorvidos pela sociedade.

- Não faz sentido jogar fora todo o esforço implementado exatamente no momento em que o controle da inflação apresenta bons resultados.