O Globo, n. 32471, 02/07/2022. Política, p. 6
Lula: papel das Forças Armadas não é cuidar de urnas
Guilherme Caetano
Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ontem que não é papel das Forças Armadas participar do processo eleitoral. A declaração foi dada durante entrevista à Rádio Metrópole de Salvador, em reaçãoà insistência de setores militares em propor mudanças à Justiça Eleitoral em ano eleitoral.
Lula disse que a fiscalização das eleições cabe à sociedade civil, e que os ataques do presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas tentam “criar confusão para fazer a mesma coisa que o (ex-presidente americano Donald) Trump fez nos Estados Unidos”. Em janeiro de 2021, Trump incitou seus apoiadores a invadirem o Congresso e interromperem o processo de transição democrática entre seu mandato e o do presidente eleito, Joe Biden.
— O papel das Forças Armadas não é cuidar de urna eletrônica. Quem tem que cuidar de urna eletrônica é a Justiça Eleitoral, quem tem que fiscalizar é a sociedade civil, e quem tem que fazer as mudanças é o Congresso Nacional. Esse cidadão (Bolsonaro) que não acredita nas urnas eletrônicas foi eleito vários mandatos de deputado pelo voto eletrônico — afirmou.
Lula disse também que as Forças Armadas deveriam se incumbir de sua “função muito nobre” de garantir a soberania nacional, vigiando as fronteiras secas e marítimas, em vez de se preocupar com o sistema de votação. O petista centrou as críticas em “alguns militares ligados ao Bolsonaro ”. E também disse que o presidente “roubou em 2018, sendo eleito contando mentiras ”.
Sem pensar em reeleição
Depois de ter governado o país por dois mandatos, entre 2003 e 2010, e disputar neste ano sua sexta eleição à Presidência, Lula deu a entender que não tentaria a reeleição em 2026, caso eleito neste ano. O petista mencionou que terá “só quatro anos” para consertar o país da situação deixada pelo governo Bolsonaro.
O petista disse que “não vai ser o presidente da República que está pensando em reeleição” e que pretende deixar o país “tinindo, tinindo” após governar por quatro anos. — Quando chegar no dia 31 de dezembro de 2026, que a gente for entregar o mandato para outra pessoa, este país estará bem, alegre, pujante, estará crescendo e as pessoas, trabalhando. Aí o Brasil vai voltar à normalidade — afirmou à Rádio Metrópole.
Num momento anterior, o petista disse que, se vencer o pleito, terá “só quatro anos” para construir mais universidades e “incluir mais pessoas na economia ”. Lula criticou políticas de Bolsonaro, como a de maior flexibilização de porte e posse de armas, e prometeu uma “revolução” sem tiros e sem distribuição de revólveres e rifles, mas sim de livros.
Um eventual quarto mandato esbarraria na idade avançada de Lula. Hoje com 76 anos, se vencer a corrida presidencial, ele assumiria o Palácio do Planalto com 77 anos. Considerando a hipótese de se reeleger em 2026, poderia deixar a Presidência com 85 anos.
O presidente mais idoso da História do Brasil é Michel Temer, que assumiu aos 77 anos, em 2016. Tancredo Neves seria o segundo com mais idade, caso tomasse posse. Aos 68 anos, Getulio Vargas disse, após ser eleito, que “estava velho”.