O Globo, n. 32471, 02/07/2022. Política, p. 6

Governistas tentam adiar CPI do MEC para depois das eleições

Camila Zarur


Em uma nova estratégia para tentar barrar a CPI do MEC — que tem o potencial de desgastar o presidente Jair Bolsonaro (PL) com a investigação de denúncias de irregularidades e de corrupção na pasta — aliados do governo agora buscam convencer o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a adiar a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito para depois das eleições. A pressão incorre também sobre líderes partidários da Casa. O argumento usado pelos governistas é que qualquer colegiado do tipo que seja aberto a três meses da eleição será usado como palanque eleitoral.

A nova estratégia se soma às demais tentativas dos governistas de abafar a comissão que pretende investigar supostos casos de corrupção na Educação durante a gestão de Milton Ribeiro. A possibilidade de haver uma CPI ganhou força nas últimas semanas após o ex chefe da pasta citar o presidente em conversas grampeadas pela Polícia Federal. A oposição já conseguiu o número necessário de assinaturas e protocolou o pedido de CPI.

Além de adiar a instalação da CPI, a base do Planalto tenta convencer Pacheco a abrir outras comissões que já foram apresentadas. Hoje, há três na fila: uma sobre obras paradas do Ministério da Educação de gestões passadas, de autoria do líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ); outra sobre a atuação do narcotráfico no Norte e Nordeste; e uma terceira sobre a atuação de ONGs na Amazônia.

Os governistas tentam ainda fazer com que a CPI do MEC se junte com a que pretende investigar as obras paradas — possibilidade vista com maus olhos pela oposição. À frente das estratégias está o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente e coordenador da campanha de reeleição do pai.

Para conseguir sucesso em suas ofensivas, a base governista no Senado se apressa  para convencer Pacheco e demais líderes de seus planos. Isso porque o presidente da Casa prometeu chegar a uma decisão — se abrirá ou não as CPIs — após a reunião de líderes marcada para terça-feira. Entre os argumentos usados pelos governistas para adiar as CPIs até o fim das eleições, além da possibilidade de uso eleitoral, é dito também que não haverá quórum. Portinho dá como justificativa para isso o próprio calendário do Congresso: o recesso parlamentar começa dia 18 e vai até 31; depois, no período eleitoral, não é cobrada a presença obrigatória dos parlamentares. Além disso, Portinho afirma que as siglas não teriam nomes para indicar aos colegiados, já que um terço da Casa tenta a reeleição este ano, enquanto outros senadores em meio de mandato devem se candidatar ao governo de seus estados.

Os argumentos dos governistas começam a ter eco entre alguns líderes da Casa. É o caso do líder do Podemos, Alvaro Dias (PR). A favor da estratégia do governo, senador defende que as comissões sejam instaladas em outubro, logo após o 1º turno, para evitar que sejam usadas como palanques.