Título: Lula sai em defesa do PT e de Dirceu
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 08/12/2005, País, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa enfática do deputado federal cassado José Dirceu (PT-SP) ao afirmar que levaria ao palanque seu ex-ministro-chefe da Casa Civil. Lula repetiu que não existem provas contra Dirceu e mais uma vez atacou a tese do mensalão. Em entrevista a quatro emissoras nacionais de rádio, o presidente considerou a prática de caixa dois ''aboninável'', mas se disse orgulhoso do PT.

- Quem fez caixa dois praticou um erro abominável contra a história do PT. Mas não pense que fiquei inibido de ser petista, pelo contrário. Agora estou mais orgulhoso porque nós também não somos infalíveis e, quando cometemos erros, temos que pagar. A sociedade brasileira precisa nos cobrar sistematicamente, de forma implacável, para que a gente seja uma referência ética e quero estar junto de todos aqueles que estiverem dispostos a fazer isso - afirmou.

O presidente defendeu a política econômica, mas não deixou claras as intenções do governo em fazer ajustes na condução da economia. Hesitou em se dizer candidato à reeleição em 2006, mas negou que tenha prometido a criação de 10 milhões de empregos em sua plataforma eleitoral.

Em quase duas horas de entrevista, Lula negou que seu governo esteja rachado pelo debate entre monetaristas e desenvolvimentistas. E afirmou que, embora partidário da democracia interna em sua administração, só admitirá discordâncias entre seus ministros ''da porta para dentro''.

A crítica foi dirigida ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que defendera uma severa política de ajuste fiscal a longo prazo. Mas serviu também para ilustrar o recente atrito entre os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele classificou as declarações que explicitaram o desentendimento entre os ministros como ''rompantes'', e aproveitou para reiterar que não tomará nenhuma decisão baseada em critérios eleitorais.

Sobraram reclamações também sobre a conduta do PT, que usou caixa dois na campanha de 2002. Lula se disse traído pelos companheiros que introduziram a prática em seu partido, se disse responsável pela prática, mesmo sem ter tomado conhecimento das irregularidades cometidas.

- A direção do PT não me disse nada. Mas tenho a responsabilidade de tudo de bom e de mau que acontece. Quantas mães e pais não sabem o que acontece em suas casas. Muitos têm filhos usando drogas e não sabem. Se a gente não sabe o que acontece em casa, como vai saber em nível nacional - disse o presidente.

Ao ser questionado se sabia dos esquemas irregulares do PT, o presidente fechou o semblante e deu um soco na mesa. Negou mais uma vez. O presidente foi solidário com o deputado cassado José Dirceu.

- Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque até agora não vi nenhuma acusação que possa dizer: ''O Dirceu cometeu um delito''. Vamos esperar, então, que se prove se houve delito - defendeu.

Com Folhapress