Valor Econômico, v. 20,
n. 4978, 09/04/2020. Finanças, p. C4
Companhias captam R$ 5,5
bi via dívida para reforçar caixa
Ana Paula Ragazzi
As empresas brasileiras captaram cerca de R$ 3 bilhões em debêntures e R$ 2,5
bilhões em notas promissórias nos últimos cinco dias. As operações estão saindo
basicamente para reforço de caixa e são encarteiradas pelos bancos
coordenadores.
O que se vê pelas
condições das emissões é que, para as grandes empresas, as taxas subiram em 1
ou 2 pontos percentuais em relação a emissões recentes e os prazos
definitivamente caíram. A maioria das operações tem prazo curto, de um ano.
Quem conseguiu taxas abaixo de CDI mais 2% ao ano, avaliam analistas, são
empresas que estão conseguindo manter negócios na crise, ou que já possuíam
linhas de crédito prontas para serem acessadas com os bancos.
A maior operação
liquidada recentemente foi do Magazine Luiza, coordenada pelo Bradesco BBI. A
varejista captou R$ 800 milhões, pelo prazo de 11 meses, com taxa de CDI mais
1,5% ao ano.
O Bradesco BBI também
liderou as emissões da MRV, no valor de R$ 100 milhões, e das controladas da
construtora: MRL Engenharia (R$ 60 milhões) e Urba Desenvolvimento Urbano
(R$ 40 milhões). As três operações têm prazo de 5 anos e taxa de CDI mais 1,5%
ao ano.
A BR Properties emitiu
R$ 250 milhões por três anos a 137% do CDI _ há meses não saía uma operação a
percentual do CDI. A emissão foi feita pelo Banco do Brasil. O Banco ABC
estruturou uma captação de R$ 102 milhões da Águas de
Teresina Saneamento - o prazo é de um ano, a CDI mais 3% ao ano.
Operações de maior porte
foram feitas pelas Rodovias Integradas do Oeste, que captou R$ 430 milhões pelo
prazo de três anos. E pela ViaMobilidade, concessionária das Linhas 5 e 17 do
metrô de São Paulo, que levantou R$ 700 milhões com uma debênture de
infraestrutura, com prazo de dez anos. Tradicionalmente, esses papéis saíam a
IPCA mais um prêmio, mas essa operação, liderada pelo Itaú BBA, ficou com taxa
pré-fixada de 9,76% ao ano. A Renner prepara uma emissão de R$ 500 milhões a
CDI mais 2,96%, por um ano.
Também estão saindo
emissões menores - a construtora Adolpho Lindenberg prepara um certificado de
recebível imobiliário (CRI) de R$ 30 milhões com vencimento em cinco anos, a
CDI mais 3%. E renegociações: a Comfrio Soluções Logísticas chamou debenturistas
para assembleia dia 20. Por conta da crise da covid-19, quer prorrogar datas de
vencimento e de amortização.
Entre as notas
promissórias, Ecorodovias Infraestrutura e Logística anunciou a maior operação,
de R$ 1,2 bilhão, em papéis de dois anos, com taxa de CDI mais 4% ao ano. A CCR
aprovou uma emissão com taxa semelhante, de CDI mais 3,98%, no valor de R$ 400 milhões,
com prazo de um ano. Uma controlada da CCR, a Samm, prestadora de
serv transmissão de dados, também prepara captação com esse instrumento.
A Direcional Engenharia
busca R$ 100 milhões em notas promissórias, com vencimento em 12 meses, a CDI
mais 4%. E, no setor elétrico, as taxas saíram um pouco menores nesse prazo. A
EDP São Paulo Distribuição de Energia levantou R$ 120 milhões a CDI mais 3%. E
a Energisa, R$ 100 milhões a CDI mais 2,75%.
A Comgás, que no dia 1º
de abril emitiu R$ 200 milhões em notas a CDI mais 3% com o Santander, no dia
7, lançou R$ 500 milhões em notas via Bradesco, com o mesmo prazo de um ano,
mas a CDI mais 3,4%.